sexta-feira, 25 de maio de 2018


“O QUE TE FAZ MAIS FORTE” (“STRONGER”), 2017, EUA, direção de David Gordon Green. Todo mundo lembra do atentado ocorrido no dia 15 de abril de 2013 durante a Maratona de Boston, quando a explosão de duas bombas matou três pessoas e deixou 264 feridas, muitas gravemente. Um dos feridos com maior gravidade foi o jovem Jeff Bauman, de 28 anos, que perdeu as duas pernas abaixo dos joelhos e se transformou num verdadeiro herói nacional ao ajudar o FBI a descobrir a identidade de um dos terroristas. Bauman escreveu uma autobiografia na qual se baseou o roteirista John Pollono para adaptá-la ao cinema. O filme conta em detalhes o sofrimento pelo qual Bauman (Jake Gyllenhaal) passou depois do acidente, os primeiros curativos (a cena é de arrepiar), as sofridas sessões de fisioterapia, as horas de desespero e angústia, o apoio dos pais e amigos e o tumultuado romance com a jovem Erin Hurley (Tatiana Maslany). Também ganham destaque no filme as homenagens que Bauman recebeu da cidade de Boston durante os concorridos jogos das equipes locais de beisebol e futebol americano. O foco principal, porém, é o esforço de Bauman para superar a tragédia com muita coragem e perseverança. Gostei do filme, mas fiquei muito triste ao ver a ótima atriz inglesa Miranda Richardson (que faz a mãe de Bauman) tão fora de forma, envelhecida e enorme de gorda, mas mesmo assim ainda muito competente.        

quarta-feira, 23 de maio de 2018


“OBEDIÊNCIA PERFEITA” (“OBEDIENCIA PERFECTA”), 2014, México, roteiro e direção de Luis Urquiza (seu primeiro e único longa-metragem). A história toca numa ferida das mais purulentas envolvendo a Igreja Católica, ou seja, o abuso sexual praticado por seus padres. No caso, o padre mexicano Angel de La Cruz (Juan Manuel Bernal), fundador da Ordem Cruz de Cristo, que durante quase duas décadas abusou sexualmente de jovens seminaristas – praticamente adolescentes. Seu jovem “preferido” era Julián (Sebastián Aguirre), que ao entrar no seminário de Angel ganhou o pseudônimo de Sacramento Santos. Baseado nos preceitos de Ignácio de Loyola, fundador da Ordem dos Jesuítas, Angel adotava como ensinamento básico e regra obrigatória a “obediência perfeita”, fazer tudo o que os padres superiores mandarem, inclusive “aquilo”. Toda a história contada no filme foi baseada no livro “Los Legionários de Cristo”, escrito por Ernesto Alcocer, cujo personagem principal é o padre Marcial Maciel Degollado (1920-2008), processado e depois excomungado pelo Papa Bento XVI. O diretor Urquiza disse, em entrevista, que resolveu fazer o filme depois que soube que o Papa João Paulo II, em sua gestão, acobertou o padre Marcial.  O filme não precisou escancarar em imagens explícitas os detalhes escabrosos da rotina do seminário, embora apresente cenas bastante perturbadoras envolvendo os padres e os jovens seminaristas. O filme é muito bom, com maior destaque para o desempenho do ator Juan Manuel Bernal como o padre Angel. Sua atuação é impressionante, fazendo você sentir uma  repugnância quase assassina pelo personagem, ironicamente chamado de Angel. Por esse trabalho, Bernal conquistou o Prêmio Ariel (o Oscar mexicano) de Melhor Ator em 2015.    

domingo, 20 de maio de 2018


Quem gosta de História, especialmente daqueles anos que precederam o início da Segunda Guerra Mundial (década de 30), não deve perder o drama biográfico “MASARYK”, 2016, República Tcheca, roteiro e direção de Julius Sevcik. A trama toda é centrada no diplomata e político Jan Garrigue Masaryk (Karel Roden), Ministro das Relações Exteriores da então Checoslováquia. Jan, filho de Tomás Masaryk, o primeiro presidente do país, teve participação importante nas reuniões que envolveram os chanceleres dos países europeus para tratar do assunto Hitler e sua política de agressão aos países menores como a Checoslováquia. As principais tratativas de Masaryk envolviam diretamente a Inglaterra e a França, então os únicos países capazes de enfrentar a poderosa Alemanha. Os bastidores dessas negociações praticamente tomam conta do filme, além da amizade de Masaryk com a jornalista e escritora norte-americana Marcia Davenport (Arly Jover). Outro destaque é a presença da bela atriz e supermodelo Eva Herzigová, que se mostra muito competente no papel de uma cantora de boate.  Apresentado durante a programação da 67ª Edição do Festival Internacional de Berlim, o filme é excelente e, repito, indicado especialmente para quem gosta de História.



“O INSULTO” (L’INSULTE”), 2017, Líbano (o título original, em francês, é por causa da coprodução com a Bélgica), roteiro e direção de Ziad Doueiri (“O Atentado” e “West Beyrouth”). Ambientada em Beirute, a história começa a ser desenrolada a partir de um incidente simples – o mecânico Tony Hanna (Adel Karam) lavava a sacada de seu apartamento quando a água saiu pelo encanamento quebrado e caiu sobre Yasser Abdallah Salameh (Kamel El Basha), engenheiro responsável por uma obra naquela rua. Um xinga o outro e vice-versa. Começa a troca de insultos. O desentendimento toma proporções maiores quando os insultos tocam nas feridas de ambas as partes, ou seja, Tony é um cristão libanês e Yasser um refugiado palestino. O conflito acaba na Justiça e o filme vira um “filme de tribunal”. Mais do que isso: transforma-se numa pendência jurídica que acaba mobilizando a mídia libanesa, levando o caso para as primeiras páginas dos jornais e para o noticiário televisivo. Graças a um primoroso roteiro, o filme aborda as mais importantes questões que envolvem o Líbano desde a segunda metade do Século 20, como os massacres de cristãos em Damour (1976) e dos palestinos em Sabra e Chatila (1982). Todos os fatos políticos da época são recordados durante o julgamento, tanto pela defesa como pela acusação. Apesar do tema árido e um tanto pesado, o filme conta com momentos de grande sensibilidade. Os atores são ótimos (Kamel El Basha foi eleito o melhor ator no Festival de Veneza). O filme é uma verdadeira aula de cinema, com destaque para o roteiro, que, a partir de um acidente aparentemente trivial, consegue abordar os principais aspectos políticos e religiosos que fizeram do Líbano um dos países mais conflituosos do Oriente Médio. O filme é tão bom que chegou ao Oscar 2018 como um dos cinco finalistas na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Assisti a todos e posso afirmar com toda certeza: “O Insulto” merecia ganhar a estatueta. Simplesmente imperdível!