domingo, 20 de maio de 2018


“O INSULTO” (L’INSULTE”), 2017, Líbano (o título original, em francês, é por causa da coprodução com a Bélgica), roteiro e direção de Ziad Doueiri (“O Atentado” e “West Beyrouth”). Ambientada em Beirute, a história começa a ser desenrolada a partir de um incidente simples – o mecânico Tony Hanna (Adel Karam) lavava a sacada de seu apartamento quando a água saiu pelo encanamento quebrado e caiu sobre Yasser Abdallah Salameh (Kamel El Basha), engenheiro responsável por uma obra naquela rua. Um xinga o outro e vice-versa. Começa a troca de insultos. O desentendimento toma proporções maiores quando os insultos tocam nas feridas de ambas as partes, ou seja, Tony é um cristão libanês e Yasser um refugiado palestino. O conflito acaba na Justiça e o filme vira um “filme de tribunal”. Mais do que isso: transforma-se numa pendência jurídica que acaba mobilizando a mídia libanesa, levando o caso para as primeiras páginas dos jornais e para o noticiário televisivo. Graças a um primoroso roteiro, o filme aborda as mais importantes questões que envolvem o Líbano desde a segunda metade do Século 20, como os massacres de cristãos em Damour (1976) e dos palestinos em Sabra e Chatila (1982). Todos os fatos políticos da época são recordados durante o julgamento, tanto pela defesa como pela acusação. Apesar do tema árido e um tanto pesado, o filme conta com momentos de grande sensibilidade. Os atores são ótimos (Kamel El Basha foi eleito o melhor ator no Festival de Veneza). O filme é uma verdadeira aula de cinema, com destaque para o roteiro, que, a partir de um acidente aparentemente trivial, consegue abordar os principais aspectos políticos e religiosos que fizeram do Líbano um dos países mais conflituosos do Oriente Médio. O filme é tão bom que chegou ao Oscar 2018 como um dos cinco finalistas na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Assisti a todos e posso afirmar com toda certeza: “O Insulto” merecia ganhar a estatueta. Simplesmente imperdível!      
      

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