“O
INSULTO” (L’INSULTE”),
2017, Líbano (o título original, em francês, é por causa da coprodução com a
Bélgica), roteiro e direção de Ziad Doueiri (“O Atentado” e “West Beyrouth”). Ambientada
em Beirute, a história começa a ser desenrolada a partir de um incidente simples
– o mecânico Tony Hanna (Adel Karam) lavava a sacada de seu apartamento quando
a água saiu pelo encanamento quebrado e caiu sobre Yasser Abdallah Salameh (Kamel
El Basha), engenheiro responsável por uma obra naquela rua. Um xinga o outro e
vice-versa. Começa a troca de insultos. O desentendimento toma proporções
maiores quando os insultos tocam nas feridas de ambas as partes, ou seja, Tony
é um cristão libanês e Yasser um refugiado palestino. O conflito acaba na
Justiça e o filme vira um “filme de tribunal”. Mais do que isso: transforma-se
numa pendência jurídica que acaba mobilizando a mídia libanesa, levando o caso
para as primeiras páginas dos jornais e para o noticiário televisivo. Graças a
um primoroso roteiro, o filme aborda as mais importantes questões que envolvem
o Líbano desde a segunda metade do Século 20, como os massacres de cristãos em
Damour (1976) e dos palestinos em Sabra e Chatila (1982). Todos os fatos
políticos da época são recordados durante o julgamento, tanto pela defesa como
pela acusação. Apesar do tema árido e um tanto pesado, o filme conta com
momentos de grande sensibilidade. Os atores são ótimos (Kamel El Basha foi
eleito o melhor ator no Festival de Veneza). O filme é uma verdadeira aula de
cinema, com destaque para o roteiro, que, a partir de um acidente aparentemente
trivial, consegue abordar os principais aspectos políticos e religiosos que fizeram
do Líbano um dos países mais conflituosos do Oriente Médio. O filme é tão bom
que chegou ao Oscar 2018 como um dos cinco finalistas na categoria Melhor Filme
Estrangeiro. Assisti a todos e posso afirmar com toda certeza: “O Insulto”
merecia ganhar a estatueta. Simplesmente imperdível!
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