sábado, 22 de agosto de 2020

 

“CRIMES DE FAMÍLIA” (“CRÍMENES DE FAMILIA”), 2020, Argentina, 1h39m, direção de Sebastián Schindel, seguindo roteiro escrito por Pablo Del Teso. Recentemente lançado na plataforma Netflix, trata-se de um drama que narra os fatos que envolvem uma família estável e de alto poder aquisitivo. Alícia (Cecilia Roth) e Ignácio (Miguel Angel Sola) vivem um casamento estável, tentando conviver com os problemas causados por Daniel (Benjamím Amadeo), de 30 anos, que nunca trabalhou, é viciado em drogas e que agora enfrenta problemas com a justiça, acusado de espancar e estuprar a ex-mulher, da qual era obrigado a manter distância por ordem judicial. Mesmo com todas as evidências que comprovam a culpa de Daniel, Alícia ainda acredita que seu filho está sendo injustiçado. O caso acaba em julgamento. Ao mesmo tempo, Alícia vive um outro dilema envolvendo sua empregada Gladys (Yanina Ávila), também presa acusada de infanticídio. Como se não bastasse, toda essa situação ainda contribuirá para abalar seu casamento de tantos anos. A segunda parte do filme é dedicada ao julgamento de Daniel e, logo em seguida, ao de Gladys. Perto do desfecho, uma surpreendente revelação agravará ainda mais o sofrimento de Alícia. O roteiro não economiza no contexto dramático ao abordar temas áridos e desagradáveis, como aborto, abuso sexual, alcoolismo, drogas, violência doméstica e outros tantos que causam tanto sofrimento às famílias. Mais um filme sério, envolvente e de qualidade do cinema argentino. Imperdível!                   

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

 

“A HORA FINAL” (“LA HORA FINAL”), 2018, Peru, 1h57m, distribuição Netflix, roteiro e direção de Eduardo Mendoza de Echave. Baseada em fatos reais, a história conta como os agentes especiais do Grupo Especial de Inteligência (GEIN) conseguiram localizar e prender Abimael Guzmán, fundador e chefe do Sendero Luminoso, organização terrorista responsável por sequestros, atentatos à bomba e execuções que resultaram na morte de mais de 30 mil pessoas no Peru, entre policiais, políticos, empresários e civis. O grupo agia desde o início dos anos 60 e só foi desmantelado a partir da “Operação Vitória”, que resultou na prisão de Guzmán, no dia 12 de setembro de 1992, ou seja, “A Hora Final”. O roteiro do filme é centrado no trabalho dos agentes do GEIN que durante anos trabalharam nas buscas do paradeiro de Guzmán. Em especial, o filme destaca os agentes Carlos Zambrano (Pietro Sibille) e Gabriela Coronado (Nidia Bermejo) e seus problemas pessoais. Zambrano, por exemplo, estava sofrendo um processo de separação da sua mulher, cansada do seu sumiço por dias e, às vezes, por meses, por conta de seu trabalho investigativo. Gabriela enfrentava um problema ainda maior, pois descobriu que seu irmão caçula pertencia ao Sendero Luminoso. Mesmo com uma produção simples e elenco de poucos atores profissionais, “A Hora Final” consegue contar, com competência, os bastidores desse importante episódio da história recente do Peru. Eu gostei e recomendo.            

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

 

“1898 – OS ÚLTIMOS DAS FILIPINAS” (“1898 – LOS ÚLTIMOS DE FILIPINAS”), 2016, Espanha, 2h09m, roteiro de Alejandro Hernández e direção de Salvador Calvo (do ótimo “Adú”). O filme conta um fato histórico ocorrido em 1898 nas Filipinas, até então colônia espanhola. Naquele ano, um pelotão de 50 soldados foi enviado para retomar a aldeia de Beler ocupada pelos rebeldes do grupo Katipunan, que lutavam pela independência das Filipinas e que no ano anterior ocuparam a aldeia assassinando dezenas de soldados espanhóis. Como não havia alojamentos adequados na aldeia, os soldados transformaram a igreja do vilarejo em quartel. Não demorou muito e os rebeldes, em muito maior número, começaram a atacar a igreja. O cerco durou quase um ano, período em que os confrontos, quase que diários, resultaram em muitos mortos, principalmente do lado dos rebeldes. Ao mesmo tempo, alguns soldados espanhóis foram atingidos por doenças como a malária e a beribéri (doença que desidrata e mata em dois ou três dias). Além disso, por causa do cerco dos rebeldes à igreja, começou a faltar água, comida e remédios. A situação ficava cada vez pior e não havia outra alternativa senão a rendição, hipótese imediatamente rejeitada pelo tenente Martín Cerezo (Luis Tosar), que desde a morte do capitão Enrique de Las Morenas (Eduard Fernández) comandava o pelotão. Mesmo depois que um oficial espanhol chegou de Manila informando que a guerra das Filipinas havia acabado, Cerezo não acreditou e permaneceu firme em seu reduto na igreja (ele e os soldados isolados na igreja não sabiam que a Espanha havia perdido não só as Filipinas, como também Porto Rico e Cuba). O filme acompanha o sofrimento dos jovens soldados espanhóis, muitos deles inexperientes em combate, mas que resistiram ao inimigo enquanto puderam, transformando Beler no último bastião do império espanhol nas Filipinas. Resumo da ópera: o filme é muito bom, principalmente por destacar um fato histórico pouco conhecido entre nós.             

terça-feira, 18 de agosto de 2020

 

PINK, 2016, Índia, distribuição Netflix, 2h16m, direção de Aniruddha Roy Chowdhury, com roteiro de Ritesh Shah. O pano de fundo envolve temas muito polêmicos e atuais na Índia: o machismo exacerbado, a condição feminina, relegada à segunda categoria, e a cultura do estupro. Tudo começa com três rapazes e três moças se conhecendo em um show de rock. Eles convidam as moças para tomar umas e outras num resort. Papo vai, papo vem, bebidas no meio, Rajveer Singh (Angad Bedi) parte para cima de Minal (Taapse Pannu) agarrando-a à força. Ela insiste em dizer não, ele em dizer sim, e os dois acabam se desentendendo. Quando não aguenta mais a insistência do rapaz, cada vez mais agressivo, ela o agride com uma garrafa, bem acima do olho esquerdo. A situação leva as moças a fugirem correndo, enquanto os amigos de Rajveer o levam para o hospital. Em seguida, vão à delegacia registrar a ocorrência, fazendo questão de dizer que Minal tinha tentado matar Rajveer e que as moças não passam de prostitutas. Logo depois, elas também registram queixa na delegacia, mas os policiais não dão bola e, pior, aconselham que elas não prossigam com a reclamação, pois a família de Rajveer é bastante influente. Claro que Minal acaba presa por tentativa de homicídio. O julgamento é marcado e um vizinho das moças, o advogado Deepak Sehgal (Amitabh Bachchan), resolve defender Aminal. A segunda parte do filme é dedicada totalmente ao julgamento, o que deixa a história ainda melhor, principalmente quando Deepak, nas alegações finais, faz um discurso brilhante e comovente em defesa não só de Minal, mas de todas as mulheres indianas colocadas numa condição inferior por uma cultura machista e preconceituosa. A atriz Taapse Pannu, que hoje é uma das principais estrelas de Bollywood, e o veterano ator Amitabh Bachchan voltariam a atuar juntos em 2019 no drama “Badla”, onde ele também faz o papel de advogado da personagem vivida por Taapse. Por sua mensagem em defesa das mulheres, “Pink” foi selecionado para uma exibição especial na ONU, em Nova Iorque. Além disso, foi escolhido pelo governo do estado indiano do Rajastão para fazer parte do treinamento dos policiais de como lidar com o público feminino. Portanto, “Pink” se consagrou como mais um grande sucesso de Bollywood, aclamado pela crítica e pelo público mundo afora. Recomendo.         

domingo, 16 de agosto de 2020

 

Quem não se apaixonou alguma vez por sua professora ou seu professor? Na maioria das vezes, claro, nunca se declarou, ao contrário do que acontece em “O QUE PODERÍAMOS SER” (“LO QUE PODRÍAMOS SER”), 2018, México, 1h34m, direção de Javier Colinas, que também escreveu o roteiro com a colaboração de Luís Ernesto Franco (ator principal do filme). O jovem Santiago (Franco) apaixona-se perdidamente pela professora de cinema Amanda (Sophie Alexander-Katz), pelo menos uns quinze anos mais velha. O assédio de Santiago, dentro e fora da sala de aula, começou a incomodar a professora, que rejeitava todas as tentativas do jovem. Mas como dizia o velho ditado, água mole em pedra dura tanto bate até que fura, Santiago conseguiu furar o gelo de Amanda, que acabou não resistindo. Papo vai papo vem, os dois acabam na cama e passam a não se desgrudar. O romance já se tornara público entre a turma de Santiago, além de toda a escola, incluindo o seu diretor, e o emprego de Amanda fica na corda bamba. Nesse meio tempo, ela recebe o convite para participar de um importante projeto de produção cinematográfica nos Estados Unidos. Será que aceitará e colocará um ponto final no romance com seu aluno? Fico devendo a resposta, já que não pretendo antecipar o que ocorrerá até o desfecho. Isso posto, recomendo assistir “O Que Poderíamos Ser” como um entretenimento leve e romântico. Vale a pena conferir.      

 

GUERRA FRIA (HON ZIN – nos países de língua inglesa, COLD WAR), 2012, Hong Kong (à disposição na plataforma Netflix), 2h06m, roteiro e direção de Lok Man Leung. A história é baseada em fatos reais ocorridos em 1999 na cidade de Hong Kong, até então considerada a cidade mais segura da Ásia. Ao mesmo tempo em que ocorria um atentado à bomba, uma van da unidade de emergência da Força Policial da cidade, com cinco policiais de elite, era sequestrada. Como o comissário geral da polícia estava numa conferência mundial em Copenhagen (Dinamarca), as investigações ficaram sob o comando dos vice-comissários Sean Lou (Aaron Kwok) e Joe Lee (Eddie Peng), que logo se desentenderam, cada um querendo impor o seu estilo de agir. Sean Lou ganhou a parada, mesmo porque o filho de Lee era um dos policiais sequestrados. Durante as investigações, os sequestradores exigiram uma grande soma de dinheiro, no que foram atendidos. Só que, na hora do resgate, os sequestradores diminuíram o valor do resgate, confundindo a polícia. Seria descoberto depois que toda a ação da polícia era antecipada pelos criminosos, o que deixava claro que havia um informante dentro da força policial. Só no desfecho é que tudo será esclarecido. Na última cena do filme, o comissário Sean Lou recebe um misterioso telefonema informando que sua esposa e seu filho haviam sido sequestrados. Logo depois, o final, deixando claro que o filme teria uma sequência, o que realmente aconteceu, mas somente em 2016. A primeira exibição de “Guerra Fria” ocorreu na abertura do 17º Busan International Filme Festival (Coreia do Sul), onde recebeu várias premiações, assim como aconteceu em outros festivais mundo afora. As cenas aéreas mostrando a cidade de Hong Kong de cima são espetaculares, certamente feitas por um drone. Mas, sem dúvida, o grande destaque são as sequências de ação, que estão se tornando uma especialidade do cinema asiático, principalmente o chinês e o sul-coreano.