quinta-feira, 6 de outubro de 2016

“O CLUBE” (“El Club”), 2014, Chile, roteiro e direção de Pablo Larraín. Ao contrário do que faz pensar à primeira vista, o clube do título não tem nada a ver com um local de reuniões sociais ou práticas esportivas. Trata-se de uma casa isolada numa pequena cidade litorânea do Chile alugada pela Igreja para hospedar padres excomungados, a maioria deles por pedofilia. Na casa em questão vivem quatro padres e uma freira, que atua como uma espécie de governanta. Eles vivem praticamente enclausurados, só saindo para acompanhar os treinos na praia do galgo “Rayo”, cujo adestrador é um dos ex-sacerdotes. Enfim, uma casa de expiação, de arrependimento. A rotina do grupo é quebrada quando chega um quinto padre, em evidente depressão e crise de consciência. Logo depois, um morador de rua aparece e passa a denunciar, aos gritos, que havia sido molestado sexualmente pelo tal padre, contando os detalhes sórdidos de como tudo aconteceu. O sacerdote acaba se suicidando e a Igreja envia um padre psicólogo para investigar o ocorrido. A partir daí, o filme fica ainda mais pesado. O clima de tensão aumenta a cada cena, causando um grande desconforto a quem está assistindo. Com certeza, um dos filmes mais perturbadores e chocantes que assisti nos últimos anos. Quem tiver estômago sensível vai sofrer diante da telinha. Mas é ótimo e com um elenco bastante afinado, entre os quais consagrados atores chilenos como Marcelo Alonso, José Soza, Roberto Farias, Alfredo Castro e Antonia Zegers. É tão bom que foi o vencedor do Urso de Prata do 65º Festival de Berlim em 2015 e indicado para o Prêmio Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. Do mesmo diretor, recomendo também "No" e “Post Mortem”, ambos apresentando a ditadura chilena como pano de fundo. Por falar em Larraín, sua competência chegou a Hollywood. Ele acaba de dirigir “Jackie”, com Natalie Portman no papel da viúva de Kennedy.             

                                  

terça-feira, 4 de outubro de 2016

“DEUS NÃO ESTÁ MORTO 2” (“GOD’S NOT DEAD 2”), 2016, EUA, direção de Harold Cronk. A premissa é a mesma do primeiro filme: promover um debate sobre a existência de Deus e de seu filho Jesus. Embora as duas produções apresentem um evidente caráter doutrinário, as discussões são levadas em alto nível, com a participação de religiosos, especialistas neutros e historiadores. Se no primeiro filme um professor desafia um aluno a provar a existência de Deus, neste segundo o embate se dá num tribunal. Numa escola pública do Ensino Médio, a professora de História Grace Wesley (Melissa Joan Hart) está falando sobre Gandhi e Martin Luther King quando uma aluna, Brooke (Hayley Orrantia), pergunta se eles praticavam os mesmos conceitos de Jesus Cristo. A professora respondeu que sim. Essa concordância acabou chegando ao conhecimento da diretora Kinney (Robin Givens) e aos pais de Brooke, que resolveram processar a professora. Afinal, escola é lugar para ensinar, e não para pregar. O caso chegou aos tribunais, com a professora sendo defendida por um advogado novato (Jesse Metcalfe). Os debates durante o julgamento são o que de mais interessante oferece este segundo filme, que, como o primeiro, foi grande sucesso de bilheteria nos EUA e em outros países, incluindo o Brasil. Uma curiosidade sobre este segundo filme é a presença de Pat Boone, que nos anos 50/60 foi um cantor de grande sucesso.           

                                  

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

“BIZARRE”, França, 2015, escrito e dirigido por Étienne Faure (é o seu longa-metragem de estreia como diretor). A história é centrada no jovem Maurice (Pierre Prieur), de 18 anos, francês radicado em Nova Iorque. Maurice faz bicos em lanchonetes e dorme na rua. Não há qualquer referência ao seu passado, como chegou aos EUA e nem se é imigrante legal ou ilegal, mistérios que você acha que serão esclarecidos até o final da história, o que não acontece, o que, para mim, é uma das grandes falhas do roteiro. Enfim, Maurice começa a trabalhar num cabaré do Brooklyn chamado “Bizarre”, famoso por apresentar, ao vivo, shows dos mais bizarros, reunindo artistas com deficiência física, sexo explícito e outras atrações exóticas e inusitadas. Um retrato bastante realista da decadência do ser humano. Maurice é acolhido na casa das donas do cabaré, Kim (Raquel Nave) e Betty (Rebekah Underhill), com as quais terá um relacionamento muito especial. Maurice também encontrará apoio na amizade com o jovem homossexual Luka (Adrian James), também funcionário do cabaré. O filme transcorre numa sequência de situações sem muita importância para o enredo, como os números musicais bizarros do cabaré, explorados ao máximo pelo diretor como forma de preencher o vazio entediante da história. O resultado final é um filme desagradável de assistir e, portanto, não recomendável. O filme foi exibido por aqui durante a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e concorreu à premiação do Festival de Berlim/2015.          

                                  

domingo, 2 de outubro de 2016

“EDGE OF WINTER” (ainda sem tradução por aqui), 2015, Canadá, primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Rob Connolly. Trata-se de um drama psicológico repleto de suspense. Depois que se separou de Karen (Rachelle Lefevre), Elliot Baker (o ator sueco Joel Kinnaman) ficou um tempo afastado dos filhos Bradley (Tom Holland), de 15 anos, e Caleb (Percy Hynes White), de 12 anos. A oportunidade de estabelecer uma relação mais próxima surge quando Karen tem de fazer uma viagem com o novo marido e deixa os filhos para um final de semana com Elliot. Machão convicto, a ponto de se vangloriar por ter acertado um soco no patrão e ser demitido, Elliot leva os filhos para uma aventura na floresta, incluindo no programa ensiná-los a atirar com uma espingarda, beber cerveja e dirigir uma SUV. Nem tudo acaba dando certo. Eles sofrem um acidente e são obrigados a pernoitar numa cabana aparentemente abandonada. Até aí tudo bem, mas as coisas mudam depois que Caleb conta ao pai que a mãe e o padrasto pretendem mudar-se para Londres com os garotos. A partir dessa notícia, Elliot muda completamente seu comportamento e coitado de quem estiver na sua frente, incluindo dois caçadores e os próprios filhos. Nada de especial nesse filme serve como aval para recomendá-lo.      

                                  
O drama romeno “O TESOURO” (“Comoara”), 2015, roteiro e direção de Corneliu Porumboiu (“A Leste de Bucareste”), apresenta um ponto de partida até que bastante interessante. Adrian (Adrian Purcarescu) procura o vizinho Costi (Cuzin Toma) e pede emprestado 800 euros. Funcionário público, casado e com um filho, Costi diz não ter o dinheiro. Adrian, porém, volta mais tarde e esclarece a razão do empréstimo: alugar um detector de metais para descobrir um possível tesouro enterrado na propriedade da família em Islaz, interior da Romênia. Adrian diz que o tesouro talvez tenha sido enterrado por seu bisavô na época da Segunda Grande Guerra. Adrian faz a proposta: se Costi emprestar o dinheiro para o aluguel do detector de metais, metade do possível tesouro será dividido entre os dois. A partir daí, o filme dará destaque, em pelo menos metade de sua duração, à busca do tal tesouro. O diretor Porumboiu imprime um ritmo bastante lento em sua narrativa, principalmente por utilizar a câmera estática na maioria das cenas. O filme foi exibido durante a mostra “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes 2015. Os críticos profissionais elogiaram, como fazem habitualmente com relação a filmes esquisitos e indecifráveis. Sinceramente, nunca vi uma caça ao tesouro tão enfadonha.