sábado, 6 de dezembro de 2014

Alguns cineastas asiáticos descobriram a fórmula certa para conquistar prêmios em festivais de cinema: fazer filmes totalmente incompreensíveis, sem nexo e sem história. Verdadeiros quebra-cabeças cinematográficos. Foi assim que o tailandês Apichatpong Weerasethakul ganhou a Palma de Ouro em Cannes com o abominável e ridículo “Tio Boonmee, que pode recordar vidas passadas”. O mais novo absurdo vem da China e se chama “CÃES ERRANTES” (“Xi You”), dirigido por Tsai Ming-Liang. Ganhou o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza 2013. Durante intermináveis e entediantes 2 horas e 18 minutos, o espectador terá à sua frente cenas imóveis, algumas delas durando mais de 10 minutos sem nada acontecer e sem ninguém falar. A primeira cena já fornece a pista do que vem a seguir: durante muitos minutos câmera estática filma uma mulher utilizando secador de cabelo e, ao seu lado, duas crianças dormindo. Depois, mais uma cena interminável, dois homens segurando placas de propaganda numa avenida movimentada. E ainda: homem comendo e cuspindo um repolho cru. Um filme sem pé nem cabeça, tronco e membros. Enfim, o espectador é submetido a um verdadeiro teste de resistência. Vai praticar um ato heroico se conseguir assistir até o final. Incrível que alguns críticos profissionais tenham elogiado o filme, destacando, principalmente, a sua "qualidade estética". Se isso for cinema, rasgo minha carteirinha de cinéfilo. Depois da sessão em que o filme foi exibido em Veneza, o diretor Ming-Liang afirmou que este seria seu último filme. Tomara!    

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

“MAGIA AO LUAR” (“Magic in the Moonlight”), 2014, é mais uma comédia romântica de Woody Allen. O filme foi todo rodado na França, como Allen já havia feito há cerca de três anos com “Meia-Noite em Paris”. Desta vez, ele ambienta a história em 1928 na Cote d’Azur, em meio a famílias abonadas, mansões luxuosas e cenários deslumbrantes. Stanley Crawford (Colin Firth) é um famoso mágico que atua em espetáculos pela Europa como o chinês Wei Ling Soon. Ele também é conhecido por denunciar, com provas, charlatões que anunciam possuir poderes mediúnicos. A pedido de um antigo amigo, Stanley segue para a mansão da milionária viúva Grace (Jacki Weaver) com o objetivo de desmascarar Sophie (Emma Stone), uma jovem que se diz médium. Ela garante que entrará em contato com o espírito do falecido marido de Grace. Sophie é alvo da paixão de Brice (Hamish Linklater), filho de Grace, que a pede em casamento. Só que Stanley também se apaixona, e os dois disputarão o coração de Sophie, até que uma inesperada revelação acontece e muda o rumo da história. Em suas últimas comédias românticas, Woody Allen tem privilegiado mais o romance do que a comédia, restrita exclusivamente a um ou outro diálogo. Dessa forma, as antigas gargalhadas se transformam em poucos sorrisos. De qualquer forma, o texto continua inteligente e, mesmo sendo um Allen inferior, é bem superior a muito filme que anda por aí fazendo sucesso.               

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

“UM CASTELO NA ITÁLIA” (“Um Château en Italie”), 2012, França, é mais um filme escrito, dirigido e protagonizado pela atriz Valeria Bruni Tedeschi (irmã de Carla Bruni, ex-primeira dama da França). Baseado na peça teatral “O Jardim das Cerejeiras”, do escritor russo Anton Tchekhov, o enredo tenta misturar comédia com drama ao contar a história de uma tradicional família francesa falida que precisa vender um casarão – quase um castelo, daí o título - na Itália. Só que no casarão mora Ludovic (Filippo Timi), recluso desde que começou o tratamento contra a AIDS. Sua irmã Louise (Valerie Bruni Tedeschi), uma quarentona frustrada por não ter filhos, quer engravidar de qualquer maneira. Atriz mal sucedida, ela descarrega todas as suas frustações bancando a abobalhada e espalhafatosa, tendo constantes ataques histéricos, o que transformou a personagem, embora a principal do filme, numa figura das mais desagradáveis e enervantes.  Se a intenção era fazer uma comédia, saiu tudo errado, pois não há graça nenhuma. Se a ideia era acrescentar algum drama ou romance, também fracassou. Na verdade, tudo resultou num filme pretensioso demais, querendo ser "Cinema de Arte". O filme disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2013. Não ganhou, claro. Não é filme para palmas...      

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

“INSEPARÁVEIS” (“Da Geht Noch Was”), 2013, é um filme alemão que mistura comédia, drama e romance, cada um na dose certa. A história começa quando Conrad (Florian David Fitz) recebe a notícia de que sua mãe Helene (a ainda bela e charmosa Leslie Malton) deixou seu pai Carl (Henry Hübchen) por outro homem, depois de 40 anos de casamento. Em alguns flashbacks, Conrad relembra o horror que tinha do pai, um homem ranzinza e extremamente mal-humorado, que gostava de tratá-lo da pior forma possível. Quando a mãe pede a Conrad que vá à antiga casa para pegar um quadro, ele leva Jonas (Marius Haas), seu filho adolescente. Durante a visita, Carl sofre um acidente e precisa ficar em repouso e aos cuidados de alguém. Muito a contragosto, Conrad resolve cuidar do pai por um tempo. Com isso, Conrad vai colocar em risco seu casamento com Tamara (Thekla Reuten, hilariante), com quem iria viajar de férias. Em sua primeira metade, o filme é uma comédia das mais divertidas. Na segunda metade, descamba para o drama romântico, com direito a tentativas de reaproximação dos casais e até a uma doença grave, o que não impede que o filme permaneça em clima de alto astral e termine, para a alegria geral, no maior happy-end. Resumindo: trata-se de um filme bastante agradável, sem nenhuma contraindicação, ideal para uma sessão família com pipoca e guaraná.   

domingo, 30 de novembro de 2014

Nos últimos anos, seja como roteirista, diretor ou ator – em alguns casos, os três juntos -, o humorista francês Dany Boon fez muitas ótimas comédias como, por exemplo, “Um Plano Perfeito”, “Bem-Vindo ao Norte” e “Nada a Declarar”, entre outras. A mais recente que escreveu, dirigiu e atuou é “SUPERCONDRÍACO” (“Supercondriaque”), 2014. Ele está na pele de Romain Faubert, um hipocondríaco crônico que há 18 anos se trata com o dr. Dimitri (Kad Merad). A obsessão de Faubert por doenças é tão forte que ele sai das festas de réveillon minutos antes da meia-noite para não receber abraços e beijos – tem medo de contaminação. Pelo mesmo motivo, quando está num vagão do metrô, ele se recusa a segurar as barras de ferro para se equilibrar, situação que resultou numa das cenas mais hilariantes do filme. Para incrementar ainda mais a história, Faubert se envolve numa briga durante a chegada de refugiados num navio e acaba trocando de identidade com Anton Miroslav (Jean-Yves Bertellot), líder revolucionário de um país que luta por sua independência da Rússia. Como a nova identidade proporciona a admiração de Anna (Alice Pol), a irmã de Dimitri, Faubert resolve manter a farsa, metendo-se em inúmeras confusões. Para se ter a ideia do prestígio de Dany Boon, este seu filme foi o mais visto na França em 2014, registrando 5,1 milhões de espectadores.   
“O VALE SOMBRIO” (“Das Finstere Tal”), 2014, direção de Andreas Prochaska, tem todas as características dos filmes do Velho Oeste que Hollywood sempre soube fazer melhor do que ninguém. A própria história já é um clichê dos faroestes: cavaleiro desconhecido chega a uma vila cuja população é dominada por uma família de malfeitores. O resto todo mundo que curte cinema é capaz de adivinhar. Só que tem apenas um detalhe muito importante: o filme é austríaco e o Velho Oeste aqui nada mais é do que os Alpes da Áustria. Quem já assistiu a um faroeste austríaco que levante a mão. A história é ambientada em 1875. O cavaleiro misterioso que chega à vila é Greider (o ator inglês Sam Riley), que se diz fotógrafo norte-americano e que acabou de chegar da América com o objetivo de fotografar as montanhas e vales que circundam aquela região. Só que, na verdade, a intenção dele é outra. Ele tem sede de vingança por causa de fatos que aconteceram há mais de 20 anos. O filme é muito bem feito, os cenários são deslumbrantes e tudo funciona realmente como um bom e tradicional western, com direito a um desfecho sangrento e violento ao estilo do diretor norte-americano Sam Peckinpah. O filme é o pré-candidato oficial da Áustria ao Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2015. Um faroeste austríaco concorrendo ao Oscar? Viva o Cinema!