sábado, 16 de outubro de 2021

 

“DANO COLATERAL” (“KIN”), 2021, Turquia, produção original Netflix, 1h45m, direção da cineasta Türkan Derya, seguindo roteiro assinado por Yilmaz Erdogan, que também atua no filme no papel do personagem principal. O bom cinema turco surpreende novamente, desta vez sem explorar aqueles dramas chorosos lançados recentemente, também pela Netflix, como, por exemplo, “Milagre na Cela 7” e “Filhos de Istambul”. Agora chega arrasando com este ótimo drama policial repleto de suspense e reviravoltas. Começa a história com o inspetor-chefe Harum (Erdogan) recebendo o prêmio de “Policial do Ano”, o que lhe dará direito a uma promoção. Ele é um policial respeitado pelos colegas e considerado um exemplo de retidão. Depois da comemoração, ele entra em um táxi para ir para casa, mas a corrida termina em tragédia. Explico: o taxista leva Harum para um lugar ermo e tenta matá-lo, sem nenhuma razão aparente. Harum se defende e acaba matando o motorista. Para não se comprometer, ele não comunica o ocorrido aos seus colegas. No dia seguinte, o corpo do motorista de táxi aparece pendurado numa grua de um edifício em construção bem em frente à delegacia. Quem assume a investigação é justamente a equipe de Harum, que tentará esconder qualquer indício de sua participação no crime. Só que Tuncay (Cem Yigit Üzümoglu), um jovem policial da sua equipe, encontra dentro do táxi o prendedor de gravata que Harum havia sido presenciado na comemoração, mas não conta a ninguém. Para piorar, durante uma batida policial noturna, Harum mata uma possível testemunha do crime do taxista. Aí a coisa complica para o seu lado. Ainda mais depois que entra na história uma prostituta viciada, Gül (Doygu Sarisin), que tem contas a acertar com Harum pela prisão de seu pai, vinte anos antes. Graças a um roteiro bem elaborado, o filme consegue prender a atenção até o seu desfecho, num clima de tensão que aumenta cada vez mais à medida que a história avança. Há que se destacar, como outro trunfo desse excelente suspense policial, a atuação do ator, cineasta, roteirista e poeta turco, de origem curda, Yilmaz Erdogan, um dos principais atores do cinema turco atual, que ficou conhecido a partir do ótimo “Era Uma Vez na Anatólia”, de 2011. Trocando em miúdos, “Dano Colateral” é um filmaço!              

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

 

“O CULPADO” (“THE GUILTY”), 2021, Estados Unidos, disponível na plataforma Netflix, 1h31m, direção de Antoine Fuqua, com roteiro de Nic Pizzolatto. Trata-se de um remake do filme dinamarquês “Culpa”, de 2018 – mais uma comprovação da tese de que, atualmente, há falta de bons roteiristas em Hollywood. O drama policial é centrado no policial Joe Baylor (Jake Gyllenhaal), tirado das ruas depois de uma falha operacional e colocado como atendente de ligações da linha emergencial do 911. Já aviso que o filme inteiro é ambientado em um cenário único, ou seja, dentro da central telefônica da polícia de Los Angeles. Baylor aparece atendendo ligações das mais variadas emergências, como acidentes, roubos, violência doméstica e alguns trotes, além de ligações de bêbados e drogados. Para piorar, um grande incêndio acontece na floresta e se aproxima perigosamente de Los Angeles. É o plantão da madrugada e o policial recebe finalmente um telefonema que atrai seu interesse e que mobiliza toda a sua atenção. Uma mulher liga desesperada dizendo que foi sequestrada pelo ex-marido e está no porta-malas de um veículo. Ela também afirma que ele matou seu bebê. Pela comunicação interna da polícia, Baylor faz de tudo para localizar o carro e enviar socorro. O filme inteiro gira em torno do esforço de Baylor para tentar ajudar a moça sequestrada, o que fornece um clima de grande tensão até o desfecho, quando acontece uma surpreendente reviravolta. As vozes que Baylor ouve são de atores conhecidos, entre os quais Ethan Hawke, como o sargento Bill Miller, Riley Keough, como a vítima Emily Lighton, Peter Sarsgaard e Paul Dano. “O Culpado”, assim como o original dinamarquês, exige uma certa paciência por parte do espectador em acompanhar a trama dentro de um pequeno cenário. Mas, se resistir em desligar o vídeo, poderá curtir um bom entretenimento.           

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 



“A AUSÊNCIA QUE SEREMOS” (“EL OLVIDO QUE SEREMOS”), 2020, Colômbia, 2h16m, disponível na plataforma Netflix desde 22/09/21, direção do espanhol Fernando Trueba e roteiro de David Trueba (irmão do diretor). Trata-se de uma pequena joia do pouco conhecido cinema colombiano, selecionado para disputar o Oscar 2021 de Melhor Filme Estrangeiro (não aceito a nova nomenclatura “Internacional”). Achei uma injustiça não ter sido classificado, pelo menos, entre os cinco finalistas. Por mim, seria um dos grandes favoritos. Trata-se de um drama baseado em fatos reais, cujo personagem central é o médico sanitarista e professor universitário Héctor Abad Gómez (Javier Cámara). A história contada no filme foi relatada no livro “El Olvido Que Seremos”, escrito pelo jornalista Héctor Abad Faciolince, filho do médico. Estamos na década de 80 na cidade de Médellin, onde Héctor Abad vive com sua esposa e seus seis filhos. A Colômbia vivia os anos de chumbo de uma ditadura militar e os violentos atentados praticados tanto por narcotraficantes como por militantes das Farcs (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Em meio a esse ambiente turbulento, o filme acompanha o cotidiano da família de Héctor, um pai dedicado, carinhoso e atencioso com a esposa e os filhos. Ao mesmo tempo, destaca o trabalho do médico sanitarista na periferia de Médellin e sua luta em favor da saúde dos pobres e da desigualdade social. Héctor também era ativista dos direitos humanos e militante da organização “União Patriótica”, razão principal do seu assassinado, em 1987, cuja autoria é um mistério até hoje. Apesar do fundo claramente político e do contexto trágico que vivia a Colômbia naquele ano, o filme é sensível e comovente, mostrando um pai de família carinhoso e, ao mesmo tempo, corajoso a ponto de combater as injustiças de peito aberto, sem medo de represálias seja de onde vierem. Um verdadeiro herói. O ator espanhol Javier Cámara é a alma do filme, com uma atuação magistral. Nenhuma surpresa, pois ele é um dos principais atores do cinema espanhol, inclusive um dos preferidos do diretor Pedro Almodóvar. Para valorizar ainda mais esta verdadeira pérola do cinema colombiano, há que se destacar o currículo do diretor Fernando Trueba, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1993 por “Belle Époque”, que chegou ao Brasil com o título “Sedução”. Resumindo, "A Ausência Que Seremos" é simplesmente imperdível, um dos melhores lançamentos do ano da Netflix.       

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

 

“JE SUIS KARL”, 2021, coprodução Alemanha/República Tcheca, 2h06m, disponível na plataforma Netflix, direção de Christian Schwochow, seguindo roteiro de Thomas Wendrich. Trata-se de um drama de cunho fortemente político, bastante esclarecedor sobre as ideologias que dominam a mente de grande parte da juventude na Europa contemporânea. A história é centrada nas atividades de uma organização chamada “Re/Generation”, grupo juvenil de extrema-direita, neofascista, radical e violento. Suas ações são baseadas nas ideias de supremacia branca europeia e xenofobia, incentivando o ódio a imigrantes árabes e africanos. A personagem central da história é a jovem Maxi Baier (Luna Wedler), cuja mãe e seus dois irmãos menores são mortos em um atentado à bomba. Revoltada e desiludida com o trabalho ineficiente da polícia de Berlim em identificar os autores do atentado, ela ingressa na tal organização “Re/Generation”, cooptada por seu porta-voz Karl (Jannis Niewöhner), um jovem sedutor pelo qual Maxi se apaixona, sem saber que ele foi um dos autores da carnificina que vitimou sua família. Nesse contexto, a organização costuma praticar atentados atribuindo-os aos imigrantes árabes. Outro personagem importante na história é o pai de Maxi, Alex Baier (Milan Peschel), um pacifista que sempre protegeu os refugiados, inclusive acolhendo um deles, o jovem líbio Yusuf (Azis Dyab). Filmado em locações nas cidades de Berlim, Praga e Paris, o filme revela um lado sinistro da juventude europeia, que pretende “limpar” seu continente na base da força e do ódio aos imigrantes. Toda essa motivação é mostrada em cenas das reuniões do grupo radical bastante esclarecedoras sobre sua ideologia, muito próxima do nazismo. O grand finale acontece em Paris, onde os militantes da organização marcam presença no discurso da candidata francesa de ultradireita Odile Leconte (Fleur Geffrier), resultando em uma batalha campal. Resumindo, “Je Suis Karl” é um filme bastante impactante, sério, contundente, revelador. Será, provavelmente, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional defendendo a Alemanha. Um filmaço!