sábado, 6 de junho de 2020


“ASSASSINOS MÚLTIPLOS” (“ACTS OF VENGEANCE”), 2017, Estados Unidos, disponível na plataforma Netflix, 1h27m, direção de Isaac Florentine (“Assalto à Casa Branca”), seguindo roteiro escrito por Matt Venne. A história repete um dos clichês mais utilizados em dezenas de filmes. Esposa e filha são assassinadas, a polícia não se esforça e o pai parte para a vingança, fazendo justiça com as próprias mãos. Ao chegar atrasado para a apresentação teatral da filha na escola, o advogado criminalista Frank Varela (Antonio Banderas) se desencontra da esposa Sue (Cristina Serafini) e da filha Olivia (Lilian Blankenship). Ele vai para casa e fica esperando as duas, mas quem chega é a polícia para avisar que elas foram assassinadas. Daí para a frente o roteiro viaja na maionese. Cheio de culpa, Frank ingressa nas lutas de MMA, apanha pra valer e vê esse sacrifício como forma de punição. Numa briga de rua, ele recebe uma facada na perna e tenta estancar o sangue com um livro que estava no lixo. Trata-se de “Meditações”, escritos pessoais e reflexões do imperador romano Marco Aurélio (121 d.C./180 d.C.), que ele adota como livro de cabeceira enquanto se recupera. Ao mesmo tempo, lê também “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu. As duas leituras o convencem a partir para a vingança, incentivando-o a se preparar física e mentalmente. Ele ingressa numa academia de artes marciais e resolve também fazer um voto de silêncio para apurar os outros sentidos.  Enquanto isso, Frank continua a investigar por conta própria até chegar aos criminosos. Exageros à parte, “Assassinos Múltiplos” funciona bem como filme de ação. Tem pancadaria, suspense e muito sangue jorrando. Também estão no elenco a atriz espanhola Paz Veja, grande amiga de Banderas na vida pessoal, Karl Urban, Lilian Blankenship, Robert Forster e Cristina Serafini. O que me surpreendeu favoravelmente foi a excelente forma física de Banderas aos 56 anos, idade que tinha quando atuou no filme. Segundo o material de divulgação, o ator espanhol treinou artes marciais durante meses para o papel. Antes de encerrar o comentário, faço meu protesto quando ao título em português, que não condiz muito com a história. Melhor seria a tradução literal: “Atos de Vingança”. Resumo da ópera: o filme prende a atenção e não economiza nas cenas de ação, garantindo um ótimo entretenimento.

quinta-feira, 4 de junho de 2020


“MY HAPPY FAMILY” (“Chemi Bednieri Ojakhi”), 2017, Geórgia (antiga república soviética), 120 minutos, produção Netflix, direção e roteiro de Nana Ekvtimishvili e Simon Gross. Trata-se de um drama familiar centrado em Manana (a ótima Ia Shugliashvili), uma professora de 52 anos que está em crise existencial por conta da rotina diária com a família conservadora. Ela, o marido, os dois filhos e os pais dela moram todos juntos num apartamento simples e apertado. Logo no café da manhã começam as discussões, que continuam durante o almoço e o jantar. Ou seja, não existe um momento de sossego, que é o que Manana sempre desejou. O marido é ausente, não tem opinião sobre nada, o filho mais velho não trabalha, só fica no computador, e tem ainda o crônico mau humor da matriarca, dona Lamara (Bertha Khapava) que reclama de tudo e pega no pé de todo mundo, inclusive de Manana. No dia de seu aniversário, Manana logo avisa: “não quero festa, não quero bolo, não quero nenhum convidado”, como quem diz “Quero sossego!”. Para o seu desespero, acontece justamente o contrário. A casa enche de parentes, tem bolo, velinhas e cantorias – o povo georgiano deve gostar de música, pois a cada reunião, seja familiar ou com amigos, logo aparece alguém tocando violão e todo mundo canta junto. Manana fica alheia à comemoração, deixando os convidados aos cuidados do seu marido. Como era de se esperar, logo depois Manana avisa que vai sair de casa, alugar um apartamento e morar sozinha. A notícia se espalha pela família e logo em seguida aparecem seu irmão Rezo (Dimitri Oraguelidze) e outros parentes, todos tentando fazer Manana mudar de ideia. A pergunta que todos fazem é por que ela que ir embora, abandonar a família. Ela nunca responde a verdadeira razão, mas quem entende um pouco de psicologia vai saber o por quê, principalmente as mulheres que estão na mesma situação com suas famílias. O filme parece um episódio do seriado da TV Globo “A Grande Família”, mas foge bastante do seu humor. “My Happy Family”, título que representa uma grande ironia, é muito interessante não apenas pela história em si, mas por destacar os costumes, os valores e o comportamento do povo georgiano. É um belo filme, com uma atriz excepcional (Ia Shugliashvili) e um ótimo elenco, embora seja formado, em sua maioria, por atores amadores. O filme estreou na Seção Fórum do 67º Festival Internacional de Cinema de Berlim e depois foi exibido em vários outros festivais mundo afora, conquistando nada menos do que 12 prêmios e outras tantas indicações. O filme é realmente muito bom.      

terça-feira, 2 de junho de 2020


“A SOMBRA DA LEI” (“LA SOMBRA DE LA LEY”), 2018, Espanha, produção da Netflix, 2h06m, roteiro de Patxi Amexcua e direção de Dani de La Torre. A história é ambientada em 1921 numa Barcelona agitada por conflitos entre a polícia e integrantes do movimento anarco-sindicalista, responsáveis por greves e tumultos nas portas das fábricas. Em meio a esse ambiente de alta combustão acontece um assalto a um trem carregado com armamento militar destinado à polícia de Barcelona e ao exército. Claro que as suspeitas recaíram sobre os anarquistas. Para ajudar a polícia local nas investigações, o Ministério da Justiça Federal desloca de Madrid o detetive Aníbal Uriarte (Luis Tosar). Ele é integrado à equipe chefiada pelo inspetor Rediú (Vicente Romero) e logo cai na graça dos novos companheiros por ser bom de briga. Uriarte logo percebe que os policiais de Rediú, assim como o próprio, são bastante desonestos e envolvidos com corrupção, assim como protegem o poderoso chefão mafioso El Barón (Manolo Solo), dono de uma casa de espetáculos de luxo e de outros negócios ilícitos. A captura dos assaltantes do trem transformou-se em ponto de honra para a polícia de Barcelona, que vai atrás dos primeiros suspeitos, justamente os anarquistas/sindicalistas, que, segundo o serviço de inteligência da polícia, estariam se preparando para uma luta armada. O filme conta toda a história dessa investigação, que ocorrerá na base de muita violência, torturas e intimidação psicológica. Merecem destaque como foram reproduzidos os cenários da cidade de Barcelona daquela época, naturalmente à base de computação gráfica, mas você assiste e não percebe, de tão perfeita. Apenas fica deslumbrado pela qualidade da cenografia. Além da história em si, outro fator que torna “A Sombra da Lei” um grande filme é a presença sempre marcante de Luis Tosar, ator que passei a admirar depois de suas memoráveis atuações em filmes como “Cela 211”, “Quem com Ferro Fere”, “Enquanto Você Dorme”, “El Descoñecido” e “Segunda-Feira ao Sol”, entre tantos outros. Completam o elenco Michelle Jenner, Paco Tous, Adriana Torrebejano e o ator argentino Ernesto Alterio. Resumindo: “A Sombra da Lei” é um filmaço!   

segunda-feira, 1 de junho de 2020


“CONTOS DE GUERRA” (“ÁPRÓ MESÉK”) – “Tall Tales” nos países de língua inglesa –, 2019, Hungria, 1h52m, direção de Attila Szász e roteiro de Norbert Köbli. Um filme bastante interessante, um misto de drama de guerra e suspense noir, lembrando os policiais de Hollywood dos anos 40/50. Mas a grande influência parece ter vindo mesmo dos filmes do diretor inglês Alfred Hitchcock, principalmente a utilização da trilha sonora para acentuar as cenas de maior tensão. A história de “Contos de Guerra” é ambientada na Hungria logo após o final de Segunda Guerra Mundial. O ex-combatente Hankó (Tamás Szabó Kimmel), aparentemente um desertor, retorna a Budapeste e, ao ler um jornal local, vê vários classificados de famílias pedindo informações sobre o paradeiro de seus entes queridos que foram para o front. Hankó decide visitar essas pessoas dizendo que foi companheiro de trincheira do tal soldado. Confesso que não entendi muito bem qual era a sua verdadeira intenção: consolar as famílias dizendo que o ente querido foi um herói ou se aproveitar da situação para conseguir alguma vantagem. Quando descobrem sua maracutaia, Hankó foge e se esconde na zona rural, onde conhece Judit (Vica Kerekes) e seu filho Virgil (Bercel Tóth). Bérces, marido de Judit, não voltou da guerra e é dado como desaparecido. Enquanto isso, Hankó e Judit se apaixonam e tudo vai às mil maravilhas até Bérces (Levente Molnár) surgir inesperadamente. A partir daí é que o suspense entra em jogo pra valer, pois Bérces, um sujeito violento, não vai deixar em paz a esposa e o amante, garantindo muita tensão até o desfecho do filme. “Contos de Guerra”, repito, é um filme bastante interessante e que merece ser visto.