“ESTRANHOS
EM CASA” (“FURIE”),
2019, coprodução França/Bélgica, 1h38m, disponível na plataforma Netflix,
direção de Olivier Abbou, que também assina o roteiro com a colaboração de
Aurélien Molas. É bom avisar logo de cara que o filme pode desagradar aos mais sensíveis,
pois é muito violento e perturbador. Não que seja ruim, pelo contrário, mas passa longe de um entretenimento leve e agradável. A história é
baseada em fatos reais, o que já é um ponto positivo. O professor de História
Paul Diallo (Adama Niane) leva sua mulher Chloé (Stéphanie Caillard) e seu
filho para uma viagem de dois meses pela Europa de trailer, deixando a casa aos
cuidados de Sabrina (Marie Bourin), a babá do seu filho. Quando retornam, eis que se
defrontam com uma surpresa inusitada e desagradável: a babá e o marido, que
tinham uma procuração para qualquer emergência, modificam em cartório o título
de propriedade da casa e se transformam nos proprietários. Revoltados, Paul e
Chloé entram na casa para tirar satisfação com os pilantras, mas a polícia logo
chega e os detêm por invasão de domicílio. Eles resolvem então alugar uma vaga
num estacionamento e ficam morando no trailer. De índole pacífica, contrário a
qualquer tipo de violência, eles contratam uma advogada para ingressar com uma
ação na justiça para recuperar a casa. Não dá certo. Nesse ponto, o roteiro faz
questão de fazer uma crítica contundente não só ao sistema judiciário francês, como
também à infernal burocracia dos cartórios. Ao mesmo tempo, Paul faz amizade
com Mickey (Paul Hamy), o dono do estacionamento e, por coincidência, antigo
namorado de Chloé. Até pouco mais da metade, o filme transcorre num clima de
suspense psicológico, sugerindo que algo de muito ruim está para acontecer. A
partir dos trinta minutos finais, o que se vê é uma sequência de cenas de
extrema violência, incluindo torturas sádicas e muito sangue jorrando. “Estranhos
em Casa”, portanto, pode ser qualificado como um dos filmes mais violentos dos
últimos anos. E se você pensar ainda que tudo aconteceu de verdade, a sensação,
ao assistir, não é das melhores. Haja estômago!