sábado, 10 de abril de 2021

 

“ESTRANHOS EM CASA” (“FURIE”), 2019, coprodução França/Bélgica, 1h38m, disponível na plataforma Netflix, direção de Olivier Abbou, que também assina o roteiro com a colaboração de Aurélien Molas. É bom avisar logo de cara que o filme pode desagradar aos mais sensíveis, pois é muito violento e perturbador. Não que seja ruim, pelo contrário, mas passa longe de um entretenimento leve e agradável. A história é baseada em fatos reais, o que já é um ponto positivo. O professor de História Paul Diallo (Adama Niane) leva sua mulher Chloé (Stéphanie Caillard) e seu filho para uma viagem de dois meses pela Europa de trailer, deixando a casa aos cuidados de Sabrina (Marie Bourin), a babá do seu filho. Quando retornam, eis que se defrontam com uma surpresa inusitada e desagradável: a babá e o marido, que tinham uma procuração para qualquer emergência, modificam em cartório o título de propriedade da casa e se transformam nos proprietários. Revoltados, Paul e Chloé entram na casa para tirar satisfação com os pilantras, mas a polícia logo chega e os detêm por invasão de domicílio. Eles resolvem então alugar uma vaga num estacionamento e ficam morando no trailer. De índole pacífica, contrário a qualquer tipo de violência, eles contratam uma advogada para ingressar com uma ação na justiça para recuperar a casa. Não dá certo. Nesse ponto, o roteiro faz questão de fazer uma crítica contundente não só ao sistema judiciário francês, como também à infernal burocracia dos cartórios. Ao mesmo tempo, Paul faz amizade com Mickey (Paul Hamy), o dono do estacionamento e, por coincidência, antigo namorado de Chloé. Até pouco mais da metade, o filme transcorre num clima de suspense psicológico, sugerindo que algo de muito ruim está para acontecer. A partir dos trinta minutos finais, o que se vê é uma sequência de cenas de extrema violência, incluindo torturas sádicas e muito sangue jorrando. “Estranhos em Casa”, portanto, pode ser qualificado como um dos filmes mais violentos dos últimos anos. E se você pensar ainda que tudo aconteceu de verdade, a sensação, ao assistir, não é das melhores. Haja estômago!                  

quinta-feira, 8 de abril de 2021

 

“PARMANU: A HISTÓRIA DE POKHRAN” (“PARMANU: THE STORY OF POKHRAN”), 2018, Índia, 2h09m, disponível na plataforma Netflix, roteiro e direção de Abhishek Sharma. Drama histórico baseado em fatos reais, ou seja, os testes nucleares realizados pela Índia nos dias 11 e 13 de maio de 1998, durante os quais cinco bombas foram detonadas (uma de fusão e as outras 4 de fissão). O filme apresenta o contexto histórico e político pós-Guerra Fria, com a Índia isolada no cenário internacional, enquanto seu rival, o Paquistão, desenvolvia seu programa nuclear. Dessa forma, o governo indiano achou por bem realizar uma demonstração de força, o que originou a Operação Shakti, cujo principal objetivo era colocar a Índia na posição de um estado nuclear de pleno direito e, com isso, ser respeitada no cenário internacional. O filme relata os bastidores desse trabalho, começando pela formação de uma equipe de especialistas chefiada pelo engenheiro nuclear Ashwat Raina (John Abraham). Para não despertar possíveis reações internacionais contrárias ao projeto, tudo foi realizado secretamente. O local escolhido foi o campo de testes de Pokhran, no deserto do Thar, estado indiano do Rajastão. Para evitar que toda a operação fosse detectada por um satélite espião dos Estados Unidos, os especialistas trabalhavam utilizando as brechas as quais chamaram de pontos cegos, ou seja, aqueles momentos em que o satélite não tinha a visão do território indiano. Além disso, havia um agente da CIA (Mark Bennington) em território indiano tentando descobrir o local dos testes e quando seriam realizados. O filme consegue, com muita competência, mostrar a aflição dos especialistas indianos diante dos desafios de colocar em prática o projeto correndo contra o tempo, o que acabou gerando ótimas sequências de suspense no filme. Claro que há um exagero evidente em exaltar o patriotismo dos indianos pelo sucesso da execução dos testes. Só faltou incluir na trilha sonora o “Jana Gana Mana”, hino oficial da Índia. Não faltaram, porém, aquelas cantorias patrióticas irritantes exaltando o país de Gandhi. Nada disso, porém, tira os méritos de “Parmanu”, um excelente drama histórico que merece ser conferido.                        

        

       

quarta-feira, 7 de abril de 2021

 

“FUJA” (“RUN”), 2020, Estados Unidos, 1h39m, produção original Netflix, direção de Aneesh Chaganty, que também assina o roteiro com a colaboração de Sev Chanian. É um suspense de primeira, angustiante do começo ao fim. Começa no hospital, quando Diane Sherman (Sarah Paulson) acaba de dar à luz um bebê prematuro que dificilmente sobreviverá. O filme dá um salto de 17 anos. Aquele bebê é agora uma jovem chamada Chloe Sherman (Kiera Allen), que vive enclausurada em casa numa cadeira de rodas, recebendo todos os cuidados de Diane. Afinal, além da paralisia da cintura para baixo, Chloe tem asma, arritmia, hemocromatose e diabetes. Diante desse quadro infeliz, Diane se dedica integralmente à filha problemática, inclusive educando-a em casa, já que proibiu que ela fosse para a escola. Um dia, porém, a jovem fica desconfiada de um novo remédio que é obrigada a tomar e pergunta à mãe para que serve. Diane dá uma resposta evasiva que faz Chloe acender uma luzinha de alerta. Isso tudo acontece em poucos minutos de filme. Dali para a frente, a menina passa a investigar o que está realmente acontecendo e, sem querer, acha uns documentos muito reveladores sobre a mãe. O filme se transforma num jogo sinistro, um verdadeiro embate físico e psicológico entre mãe e filha, com sequências de tirar o fôlego. E olha que o filme quase inteiro é ambientado num único cenário, ou seja, a casa em que vivem, além de algumas outras cenas em um hospital. E com apenas dois personagens, a mãe e a filha, e mesmo assim o ritmo do suspense é alucinante. Méritos ao diretor de origem indiana Annesh Chaganty. Este é o seu segundo longa-metragem. O primeiro foi um outro suspense, “Buscando...” (“Searching”), de 2018, muito elogiado pelo público e pela crítica. É bom guardar o nome desse jovem diretor, de apenas 30 anos, que já demonstra talento para se tornar um cineasta de destaque no mundo cinematográfico. Também é preciso destacar o desempenho fantástico das duas atrizes principais, especialmente a estreante Kiera Allen, que na vida real também é cadeirante. Enfim, “Fuja” é um ótimo suspense, repleto de tensão, sufocante, espetacular. Não perca!                    

terça-feira, 6 de abril de 2021

 

“ATÉ O CÉU” (“HASTA EL CIELO”), 2020, Espanha, 2h01m, disponível na Netflix, direção de Daniel Calparsoro, seguindo roteiro de Jorge Guerricaechevarría, dois craques no gênero filmes de ação. “Até o Céu” conta a história do jovem Angel (Miguel Herrán, de “La Casa de Papel”), que trabalha como mecânico numa oficina automotiva. Ele mora com o avô em um cortiço na periferia de Madrid. Ele é apaixonado por Estrella (Carolina Yuste), cabeleireira num salão de beleza, só que ela prefere sair com Lico (Richard Holmes), que tem um carrão de dar inveja. Para ganhar mais dinheiro e, quem sabe, conquistar Estrella, Angel ingressa no mundo do crime ao lado de alguns amigos, começando por assaltar joalherias e roubar carros. Seu receptador é um poderoso empresário, Rogelio (Luís Tosar). A gangue de Angel passa a cometer assaltos mais audaciosos e logo se transforma no alvo da polícia de Madrid, especialmente do detetive Duque (Fernando Caio), para quem prender Angel torna-se uma questão de honra. O jovem marginal cai nas graças do chefe Rogelio e acaba casando com sua filha Sole (Asia Ortega). Outro personagem de destaque é a advogada Mercedes (Patrícia Vico, esposa do diretor na vida real), que utiliza de estratégias nada honestas para livrar Angel e seus comparsas da cadeia. Muita ação transcorre durante a história, num ritmo quase alucinante, prendendo a atenção do espectador do começo até o fim. Aliás, o desfecho deu a entender que haveria uma continuação. Acertei em cheio, pois “Até o Céu” está virando série, atualmente em fase de pré-produção. Deve fazer sucesso como o filme, que bateu recordes de bilheteria na primeira semana depois que foi lançado nos cinemas da Espanha dia 18 de dezembro de 2020. Trocando em miúdos: um filmaço!                        

segunda-feira, 5 de abril de 2021

 

“OS SEGREDOS DE MADAME CLAUDE” (“MADAME CLAUDE”), 2020, França, 1h52, produção original Netflix, roteiro e direção de Sylvie Verheyde. Trata-se do drama biográfico de Madame Claude (seu nome verdadeiro era Fernande Grudet), proprietária de um bordel de luxo que ficou famoso em Paris nas décadas de 60 e 70. Também conhecida como a “Imperatriz do Sexo” e a “Cafetina da República”, Madame Claudel ganhou prestígio por receber, como clientes habituais, políticos, empresários e celebridades do mundo artístico. Marlon Brando era um deles. Sua agenda de clientes parecia a lista de convidados de um casamento real. Paralelamente ao bordel, a cafetina comandava uma rede de prostituição que chegou a ter um contingente de 200 garotas, todas do mais alto nível. Esse trabalho lhe rendeu uma invejável conexão com importantes figuras do governo francês, o que lhe permitia agir com toda liberdade. O filme destaca a relação de Madame Claudel (Karole Rocher) com suas “meninas”, especialmente com sua preferida, Sidonie (Garance Marillier), a quem tratava como se fosse sua filha. O roteiro é bem elaborado, evidenciando a ascensão e queda da cafetina, que morreria em 2015 com 92 anos. O destaque, porém, fica por conta da ambientação de época, os cenários, a trilha sonora e, principalmente, os figurinos. Embora Karole Rocher seja a principal protagonista, é a atriz Garance Marillier quem comanda o espetáculo, arrasando como a prostituta preferida de Madame Claudel. Também estão no elenco Roschdy Zem, Pierre Deladonchamps, Paul Hamy, Hafsia Herzi, Mylène Jampanoï, Liah O’Prey, Josephine de La Baume, Benjamin Biolay, Annabelle Belmondo, Lucile Jaillant, Mathilde Moigno e Lea Rostain. “Madame Claude” não é um grande filme, mas vale pela história. Recomendo.                      

domingo, 4 de abril de 2021

 

“TURMA DE 83” (“CLASS OF 83”), 2020, Índia, 1h38m, produção original Netflix (estreou mundialmente no dia 21 de agosto de 2020), direção de Atul Sabharwal, seguindo roteiro de Abhijeet Shirish Deshpande. A história é baseada em fatos reais ocorridos na década de 80 do século passado e descritos no livro “The Class of 83: The Punishers of Mumbai Police”, do jornalista S. Hussain Zaidi. Durante muitos anos, Zaidi ficou conhecido por suas reportagens no jornal “Asian Age”, nas quais acompanhava o trabalho da polícia de Mumbai (antiga Bombaim) contra as gangues que mandavam e agiam na periferia da cidade, roubando, matando e traficando. “Turma de 83” tem como foco principal o comandante Vijay Singh (Bobby Deol), um policial herói rebaixado para o cargo de diretor da academia de polícia de Mumbai. Tudo porque ele prendeu gente ligada ao governo e à própria polícia. No cargo de diretor da academia, ele treinou um batalhão inteiro e, no final do treinamento, escolheu, de forma secreta, cinco dos seus piores alunos para formar um tipo de esquadrão da morte, cuja missão, confidencial, era executar os principais bandidos das facções criminosas de Mumbai, assim como acabar com a corrupção dentro da própria polícia. Tolerância zero! Oficialmente, os assassinatos eram sempre atribuídos a uma suposta guerra de gangues por disputa de territórios. E assim a matança acabaria acontecendo durante durante anos, tornando-se notícia de primeira página em todos os jornais da Índia. “Turma de 83” chega a lembrar o nosso “Tropa de Elite”, durante o qual a gente vibrava na plateia vendo os bandidos sendo executados. Mais uma grande vantagem desse filme indiano é a ausência daquelas irritantes cantorias e coreografias que se tornaram marca registrada de Bollywood. Além disso, imagens da época em que tudo aconteceu também são utilizadas. Resumo da ópera: “Turma de 83” é ótimo!