quinta-feira, 10 de maio de 2018


Existem alguns bons motivos para assistir “THE FORGIVEN” (na tradução literal para o português, “O Perdoado”, mas não sei será traduzido assim por aqui), 2017, Inglaterra. O principal deles é a história em si, baseada em fatos reais, ou seja, o período pós-Apartheid na África do Sul, quando o presidente eleito Nelson Mandela constituiu a Comissão de Verdade e Reconciliação, com o objetivo de julgar os crimes cometidos entre 21 de março de 1960, quando houve o famoso massacre de Sharpeville, e 10 de maio de 1994, dia da posse de Mandela. O Arcebispo Desmond Tutu foi encarregado de presidir a Comissão. Nos julgamentos, as famílias das pessoas assassinadas, geralmente por motivos racistas, eram colocadas frente a frente com os assassinos (geralmente policiais do antigo regime), resultando excelentes cenas para o filme. Numa delas, a mãe de uma jovem que havia sido brutalmente morta encara o assassino, fala poucas e boas e no fim acaba o perdoando, num dos momentos mais tocantes do filme. Outro bom motivo é a presença de dois ótimos atores, Forest Whitaker como Desmond Tutu, e Eric Bana como Piet Blomfield, um assassino cruel sentenciado à prisão perpétua. Outro fator que merece destaque é o trabalho do experiente roteirista e diretor inglês Roland Joffé, responsável por clássicos como “Os Gritos do Silêncio” (1984), “A Missão” (1986), e “Vatel – Um Banquete para o Rei” (2000), entre tantos outros. Ao elaborar “The Forgiven”, Joffé baseou-se na peça “The Archbishop and The Antichrist”, escrita por Michael Ashton, que também colaborou com o roteiro. Enfim, estão aí expostos os motivos para você curtir esse excelente filme, que estreou, com elogios, durante o Festival de Cinema de Londres/2017.     
      

segunda-feira, 7 de maio de 2018


“UMA ESPÉCIE DE FAMÍLIA” (“Una Especie de Familia”), Argentina, 2017, roteiro e direção de Diego Lerman. Trata-se de um drama (dramalhão, na verdade) centrado na médica Malena (Bárbara Lennie), que, depois de perder um filho na fase de gestação, resolve adotar um bebê. Ela consegue a doação por intermédio de uma moça de família pobre que mora num vilarejo da província de Misiones, a 800 km de Buenos Aires. Tudo acertado, Malena ruma para acompanhar o parto de Marcela (Yanina Ávila), a tal mãe que concordou em doar a criança. Depois que o bebê nasce, porém, a família de Marcela surpreende com a decisão de entregar o bebê se a médica pagar 10 mil dólares. Além disso, quer que o marido de Malena, Mariano (Claudio Tolcachir), assuma a paternidade do bebê e o registre em seu nome. Imbróglio formado, resta a Malena conseguir o dinheiro e ainda convencer o marido a assinar o termo de paternidade. A situação engrossa de vez e mais não dá para contar porque o que vai acontecer talvez seja difícil de adivinhar. Deixo esse suspense para o espectador. O filme vale principalmente pela ótima atuação da bela e competente atriz espanhola Bárbara Lennie, que trabalhou sob a direção de Pedro Almodóvar em “A Pele que Habito”, além de ter participado do elenco do “Mel com Laranjas”. Mas a atuação que mais surpreende é a da estreante Yanina Ávila como a mãe biológica da criança. O filme foi exibido por aqui durante a 41º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017.     

domingo, 6 de maio de 2018


Confesso de cara que não foi fácil resistir até o final das 2h7min de duração do drama romeno   “ANA, MON AMOUR”, 2017, escrito e dirigido por Calin Peter Netzer, o mesmo diretor do ótimo “Instinto Materno”. A história é baseada no livro “Luminita, Mon Amor”, escrito por Cezar Paul-Bädescu (que também colaborou na elaboração do roteiro). O tédio já começa com dois estudantes de filosofia discutindo Nietzsche. Dessa forma erudita é que começa o romance entre Ana (Diana Cavallioti) e Toma (Mircea Postelnicu). A partir daí, o filme acompanha a relação tumultuada entre os dois durante muitos anos depois. Ana é uma mulher depressiva crônica, tem ataques de ansiedade e pânico e é emocionalmente perturbada, talvez porque tenha sido estuprada pelo padrasto quando era adolescente – pelo menos é o que o filme dá a entender. Toma é inseguro, também depressivo, fuma sem parar e se entrega totalmente aos defeitos de Ana, que se transforma numa obsessão para ele ao longo dos anos em que ficam juntos. Para aguentar o tranco, Toma se submete a sessões de psicanálise mostradas ao espectador de forma bastante tediosa. Um aviso importante para quem se sujeitar a acompanhar esse drama: tire as crianças da sala, pois tem cenas de nú frontal e de sexo explícito, aliás, de muito mau gosto. Outra cena que choca é aquela em que Toma é obrigado a limpar as sujeiras de Ana depois de um surto. A cena que achei mais interessante, porém, é aquela em que os editores do jornal em que Toma trabalha discutem a pauta da próxima edição. A ideia é colocar, como destaque, uma entrevista com o escritor brasileiro Paulo Coelho. Toma é contra, dizendo que Coelho não é bom escritor e que, por isso, não merece destaque, ao que foi contestado pelo editor-chefe, que defende a entrevista dizendo que nenhum escritor no mundo vende tanto quanto Paulo Coelho. O filme estreou no 67º Festival de Berlim e foi exibido por aqui durante a 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017.