sexta-feira, 3 de abril de 2015

“PEQUENOS ACIDENTES” (“Little Accidents”), 2014, EUA, é um drama independente ambientado numa pequena cidade americana cuja economia gira em torno de uma mina de carvão. A história envolve dois acontecimentos trágicos: um acidente na mina que matou 10 operários e a morte acidental de um garoto, justamente o filho do gerente da mina. De um lado, o processo investigativo do acidente que matou os mineiros, no qual a principal testemunha é Amos Jenkins (Boyd Holbrook), único sobrevivente da tragédia. Do outro lado, a investigação da polícia sobre o desaparecimento do garoto, vitimado por um acidente envolvendo Owen (Jacob Lofland), cujo pai era uma das vítimas fatais na mina. Bill Doyle (Josh Lucas), gerente da mina, está sendo investigado e, para piorar, não vive um bom momento em seu casamento com Diane (Elizabeth Banks), o que vai resultar em traição por uma das partes. As tramas caminham em paralelo até o final, sem muitas reviravoltas ou surpresas. O filme é praticamente a adaptação de um curta, com o mesmo nome e temática, realizado em 2010 pela jovem diretora Sara Colangelo, que também dirige o longa. Não deixa de ser uma produção interessante, principalmente pela oportunidade de rever a atriz Chloë Sevigny, há um tempo sumida, como a viúva mãe de Owen.
Em “ADEUS À LINGUAGEM” (“Adieu au Langage”), 2013, do diretor francês Jean-Luc Godard, um personagem prevê que um dia teremos de contratar intérpretes para explicar o que dizemos uns aos outros, pois hoje ninguém está se entendendo. O mesmo vale para mais esse atentado cometido por Godard contra a arte cinematográfica, cuja premissa principal é oferecer entretenimento, diversão. Godard talvez seja o mais indecifrável dos cineastas indecifráveis. Pior que Terrence Malick (”A Árvore da Vida”) e outros diretores que se acham gênios, aclamados  por críticos afetados. Nesse filme, como é de seu estilo, Godard monta um mosaico de imagens desconexas, acrescentando citações filosóficas, políticas e históricas. Não há uma história. Em meio à parafernália visual e verborrágica, um casal anda pelado pela casa dizendo frases sem sentido um para o outro e um cachorro é filmado em várias situações. Numa delas, uma voz em off comenta que os bichos não estão pelados, pois estão pelados. Inteligente, não? E por aí vai Godard, que, para fazer esse filme, deve ter tido um tipo de surto criativo à base de algum alucinógeno. O pior de tudo é que “Adie au langage” foi eleito o melhor filme de 2014 por alguns críticos norte-americanos e, no mesmo ano, venceu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes. Em resumo, Godard é um chato de galocha, ou galoche, em francês. Repetindo o que me disse Rubem Ewald Filho, “Crítico adora filme que não entende”. Em todo caso, assista e tire suas conclusões.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

“ACIMA DAS NUVENS” (“Clouds of Sils Maria”), 2014, é mais um grande filme com a assinatura do diretor francês Olivier Assayas (de “Depois de Maio”). A história é centrada na atriz Maria Enders (Juliette Binoche), que, beirando os 50 anos, é convidada para reencenar a mesma peça que a catapultou ao estrelato quando tinha apenas 18 anos. Ela interpretava a jovem Sigrid, que na peça tem um caso amoroso com Helena, sua chefe e vinte anos mais velha. É claro que, agora, Enders interpretará Helena. Para ensaiar o texto, ela se isola numa cabana nos Alpes Suíços com sua assistente  Valentine (Kristen Stewart). Enders não vive um bom momento em sua vida pessoal. Recém-saída de um divórcio e abalada pela súbita morte do amigo e dramaturgo Wilhelm Melchior (autor da peça), ela ainda tem que lidar com o fato de estar ficando mais velha, sentimento reforçado pelo convite para interpretar Helena. É um filme feito de diálogos – aliás, muito inteligentes -, a maioria deles relacionados com a psicologia dos personagens da peça. Os diálogos também colocam em discussão a amizade e a convivência entre a atriz fragilizada e sua assistente, uma relação que dá a entender que existe algo mais do que apenas o vínculo profissional. Não é, definitivamente, um filme para o grande público. Mas é muito bom e tem no elenco seu maior trunfo, com ótimos desempenhos de Binoche (como se fosse novidade) e Kristen Stewart, além de Chloë Grace Moretz, como a jovem atriz Jo-Ann Ellis. O cenário, nada menos do que deslumbrante dos Alpes Suíços, é outro destaque desse filme que consagra Assayas como um dos melhores diretores do cinema europeu atual.                                                                                                                                               

domingo, 29 de março de 2015

O drama “FORÇA MAIOR” (“Force Majeure”) foi o candidato oficial da Suécia na disputa pela estatueta do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro/2015. Não ficou entre os cinco finalistas, mas ganhou rasgados elogios dos críticos. Realmente, é muito bom, mas um tanto inacessível para o grande público. Trata-se de um drama bastante pesado, um verdadeiro tratado psicológico do comportamento humano, sua instabilidade, fragilidade e desequilíbrio. Não duvido que esteja sendo exibido durante as aulas nas faculdades de Psiquiatria e Psicologia pelo mundo afora. Tomas (Johannes Bah Kuhnke), sua esposa Ebba (Lisa Loven Kongsli) e os dois filhos Vera (Clara Wettergreen) e Harry (Vicent Wettergreen) – irmãos também na vida real – vão passar as férias e esquiar nos Alpes Franceses. Tudo vai às mil maravilhas quando, de repente, durante almoço no terraço do hotel, a família e os outros hóspedes são surpreendidos pelo que parecia ser uma avalanche destruidora. Não passou de um susto, mas o fato de Tomas ter fugido correndo sem pensar na mulher e nos filhos desencadeará uma grande crise familiar e conjugal. A partir desse episódio, o filme, através dos diálogos íntimos entre o casal e mais as conversas que terão com amigos discutindo o que ocorreu, transforma-se em algo como uma longa sessão de terapia, o que não deixa de ser interessante. Em seu quarto longa, o diretor sueco Ruben Östlund realizou um filme de grande impacto.