“PEQUENOS ACIDENTES” (“Little Accidents”), 2014, EUA, é um drama independente
ambientado numa pequena cidade americana cuja economia gira em torno de uma
mina de carvão. A história envolve dois acontecimentos trágicos: um acidente na
mina que matou 10 operários e a morte acidental de um garoto, justamente o
filho do gerente da mina. De um lado, o processo investigativo do acidente que
matou os mineiros, no qual a principal testemunha é Amos Jenkins (Boyd Holbrook),
único sobrevivente da tragédia. Do outro lado, a investigação da polícia sobre
o desaparecimento do garoto, vitimado por um acidente envolvendo Owen (Jacob
Lofland), cujo pai era uma das vítimas fatais na mina. Bill Doyle (Josh Lucas),
gerente da mina, está sendo investigado e, para piorar, não vive um bom momento
em seu casamento com Diane (Elizabeth Banks), o que vai resultar em traição por
uma das partes. As tramas caminham em paralelo até o final, sem muitas
reviravoltas ou surpresas. O filme é praticamente a adaptação de um curta, com
o mesmo nome e temática, realizado em 2010 pela jovem diretora Sara Colangelo,
que também dirige o longa. Não deixa de ser uma produção interessante, principalmente
pela oportunidade de rever a atriz Chloë Sevigny, há um tempo sumida, como a viúva
mãe de Owen.
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Em “ADEUS
À LINGUAGEM” (“Adieu au Langage”), 2013,
do diretor francês Jean-Luc Godard, um personagem prevê que um dia teremos de
contratar intérpretes para explicar o que dizemos uns aos outros, pois hoje
ninguém está se entendendo. O mesmo vale para mais esse atentado cometido por
Godard contra a arte cinematográfica, cuja premissa principal é oferecer
entretenimento, diversão. Godard talvez seja o mais indecifrável dos cineastas
indecifráveis. Pior que Terrence Malick (”A Árvore da Vida”) e outros diretores
que se acham gênios, aclamados por
críticos afetados. Nesse filme, como é de seu estilo, Godard monta um mosaico
de imagens desconexas, acrescentando citações filosóficas, políticas e
históricas. Não há uma história. Em meio à parafernália visual e verborrágica, um
casal anda pelado pela casa dizendo frases sem sentido um para o outro e um
cachorro é filmado em várias situações. Numa delas, uma voz em off comenta que os bichos não estão
pelados, pois estão pelados. Inteligente, não? E por aí vai Godard, que, para
fazer esse filme, deve ter tido um tipo de surto criativo à base de algum
alucinógeno. O pior de tudo é que “Adie au langage” foi eleito o melhor filme de 2014 por alguns críticos norte-americanos
e, no mesmo ano, venceu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes. Em resumo, Godard é um chato de galocha, ou galoche, em francês. Repetindo o que
me disse Rubem Ewald Filho, “Crítico adora filme que não entende”. Em todo
caso, assista e tire suas conclusões.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
“ACIMA DAS NUVENS” (“Clouds of Sils Maria”), 2014, é mais um grande filme com a
assinatura do diretor francês Olivier Assayas (de “Depois de Maio”). A história
é centrada na atriz Maria Enders (Juliette Binoche), que, beirando os 50 anos,
é convidada para reencenar a mesma peça que a catapultou ao estrelato quando
tinha apenas 18 anos. Ela interpretava a jovem Sigrid, que na peça tem um caso
amoroso com Helena, sua chefe e vinte anos mais velha. É claro que, agora,
Enders interpretará Helena. Para ensaiar o texto, ela se isola numa cabana nos
Alpes Suíços com sua assistente Valentine
(Kristen Stewart). Enders não vive um bom momento em sua vida pessoal.
Recém-saída de um divórcio e abalada pela súbita morte do amigo e dramaturgo
Wilhelm Melchior (autor da peça), ela ainda tem que lidar com o fato de estar
ficando mais velha, sentimento reforçado pelo convite para interpretar Helena. É um
filme feito de diálogos – aliás, muito inteligentes -, a maioria deles
relacionados com a psicologia dos personagens da peça. Os diálogos também colocam
em discussão a amizade e a convivência entre a atriz fragilizada e sua
assistente, uma relação que dá a entender que existe algo mais do que apenas o
vínculo profissional. Não é, definitivamente, um filme para o grande público.
Mas é muito bom e tem no elenco seu maior trunfo, com ótimos desempenhos de
Binoche (como se fosse novidade) e Kristen Stewart, além de Chloë Grace Moretz,
como a jovem atriz Jo-Ann Ellis. O cenário, nada menos do que deslumbrante dos Alpes
Suíços, é outro destaque desse filme que consagra Assayas como um dos melhores
diretores do cinema europeu atual.
domingo, 29 de março de 2015
O
drama “FORÇA MAIOR” (“Force Majeure”) foi o candidato oficial da Suécia na disputa pela estatueta do Oscar
de Melhor Filme Estrangeiro/2015. Não ficou entre os cinco finalistas, mas
ganhou rasgados elogios dos críticos. Realmente, é muito bom, mas um tanto inacessível
para o grande público. Trata-se de um drama bastante pesado, um verdadeiro
tratado psicológico do comportamento humano, sua instabilidade, fragilidade e desequilíbrio.
Não duvido que esteja sendo exibido durante as aulas nas faculdades de
Psiquiatria e Psicologia pelo mundo afora. Tomas (Johannes Bah Kuhnke), sua
esposa Ebba (Lisa Loven Kongsli) e os dois filhos Vera (Clara Wettergreen) e
Harry (Vicent Wettergreen) – irmãos também na vida real – vão passar as férias e
esquiar nos Alpes Franceses. Tudo vai às mil maravilhas quando, de repente,
durante almoço no terraço do hotel, a família e os outros hóspedes são
surpreendidos pelo que parecia ser uma avalanche destruidora. Não passou de um
susto, mas o fato de Tomas ter fugido correndo sem pensar na mulher e nos
filhos desencadeará uma grande crise familiar e conjugal. A partir desse
episódio, o filme, através dos diálogos íntimos entre o casal e mais as
conversas que terão com amigos discutindo o que ocorreu, transforma-se em algo como uma longa sessão de terapia, o
que não deixa de ser interessante. Em seu quarto longa, o diretor sueco Ruben
Östlund realizou um filme de grande impacto.
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