sábado, 8 de junho de 2019


Imagine uma bomba atômica de alto teor destrutivo, ou então um abacaxi tão azedo que é capaz de causar morte por acidez. Escrevo esse introito para definir o que achei do suspense “CALMARIA” (“SERENITY”), 2018, EUA, 1h46, roteiro e direção de Steven Knight. Vamos à história: Baker Dill (Matthew McConaughey), um ex-soldado do exército norte-americano, vive na ilha caribenha de Plymouth, onde ganha a vida levando turistas para pescar em seu barco. Um dia aparece sua ex-namorada Karen (Anne Hathaway) oferecendo uma grana preta para que ele mate o seu marido milionário, Frank Zariakas (Jason Clarke). Ela chegou com o plano pronto: Frank queria pescar em alto-mar e para isso alugaria o barco de Baker. Quando Frank estivesse bêbado, Baker o jogaria aos tubarões. Para tentar convencê-lo a seguir com o plano, Karen diz que Frank, além de espancá-la, ainda maltrata o garoto Patrick (Rafael Sayegh), filho que teve com Baker antes dele se alistar e partir para uma missão no Iraque. Depois de muito relutar, Baker finalmente aceita assassinar o sujeito. Até aí, mais ou menos a metade do filme, o suspense caminha numa sequência lógica e o espectador fica na expectativa de como tudo acontecerá. Porém, numa reviravolta estapafúrdia, o enredo nos leva a crer que tudo não passa de uma ilusão. E, pior, que tudo o que estamos vendo foi arquitetado pelo filho de Baker, que criou um jogo pelo computador e, através dele, domina as ações dos personagens. Risível demais, ridículo demais, uma afronta à nossa inteligência, uma afronta ao cinema. Não dá para acreditar que McConaughey e Anne Hathaway, além de Jason Clarke, Diane Lane e Djimon Hounsou, tenham topado participar de uma bobagem tão grande. E olha que Steven Knight é considerado um ótimo roteirista em Hollywood. O filme é tão ruim que, diante das críticas negativas após o seu lançamento nos Estados Unidos, a Aviron Pictores, que o produziu, desistiu de utilizar a verba destinada para sua divulgação, e o filme, como se esperava, foi um grande fracasso de bilheteria. Conselho: FUJA A GALOPE!

quinta-feira, 6 de junho de 2019


“DARLING”, 2017, Dinamarca, 1h43m, direção de Birgitte Staermose, que também assina o roteiro com a colaboração de Kim Furz Aakeson. A história é centrada em Diana (Danica Curcic), cujo nome artístico é Darling, uma bailarina dinamarquesa de fama mundial e que há muitos anos está radicada em Nova Iorque com o marido Frans (Gustaf Skarsgard), um renomado coreógrafo. A dupla recebe um convite especial de um antigo amigo, Kristian (Ulrich Thomsen), diretor de um famoso teatro de Copenhague, para ambos encenarem o balé clássico “Giselle”. De volta à Dinamarca, o casal inicia os ensaios para a peça, mas a poucos dias da apresentação, Diana se machuca e não poderá mais ser a “Giselle”. Polly (Astrid Grarup Elbo), uma jovem e bela bailarina, é selecionada para o papel principal, iniciando um duro treinamento sob a supervisão da própria Diana, que submete a jovem bailarina a uma enorme pressão psicológica, talvez motivada pelo ciúme de outra assumir o papel que lhe era destinado. Diana também aparentava sentir ciúme do seu marido pela atenção dedicada a Polly durante os ensaios. Pouco antes da estreia, o estresse chega ao seu ponto máximo, a ponto de ameaçar a qualidade do espetáculo. O filme é muito bom, não só pela história bem contada, mas pelo excelente desempenho do elenco, destacando-se a atriz sérvia Danica Curcic radicada na Dinamarca e a jovem e bela atriz Astrid Grarup Elbo, que na vida real também é bailarina da companhia do famoso The Royal Danish Ballet. Um ótimo programa para quem gosta de balé e de cinema de qualidade.        


“A ÚLTIMA RESISTÊNCIA” (“Kiborhy: Heroyi Nikoly Ned Vmyrayut”), 2017, Ucrânia, 1h30m, roteiro e direção de Akhten Seitablaev. O filme é baseado em fatos reais e reproduz um dos episódios mais importantes e sangrentos da Guerra Civil da Ucrânia, ou seja, a disputa pelo Aeroporto Internacional de Donetsk. Aconteceu em 2014. De um lado as forças separatistas pró-Rússia e, do outro, soldados do exército ucraniano. O aeroporto de Donetski, o mais importante da Ucrânia e ocupando uma posição estratégica, já estava praticamente destruído pelo conflito. Em meio à confusão generalizada, havia a suspeita de que o exército da Rússia entraria em ação para resolver de vez a questão. O filme contém diálogos interessantes entre os soldados de cada uma das partes envolvidas, cada um defendendo suas motivações. Entretanto, fica difícil para o espectador entender quem é quem, pois todos acreditam defender a Ucrânia. Embora em alguns momentos o filme possa entediar, existe outros em que a ação toma conta, principalmente nas cenas – muito bem elaboradas - das violentas batalhas que ocorreram para o domínio do aeroporto. Para nós, os atores do elenco – só homens – são ilustres desconhecidos e, por isso mesmo, não há necessidade de citá-los. Vale a pena assistir para conhecer um dos episódios mais marcantes daquela guerra civil que parece não ter fim.   

segunda-feira, 3 de junho de 2019


“ASSUNTO DE FAMÍLIA” (“MANBIKI KAZOKU”), 2018, Japão, 2h1m, roteiro e direção de Hirokazu Koreeda. O filme estreou no 71º Festival de Cinema de Cannes, em maio de 2018, e já conquistou a Palma de Ouro. Foi inscrito para disputar o Oscar 2019 na categoria Melhor Filme Estrangeiro e ficou entre os 9 finalistas. Além disso, em todos os festivais em que foi exibido pelo mundo afora, “Assunto de Família” conquistou a crítica especializada e o público, ratificando o diretor Hirokazu Koreeda como um dos mais destacados cineastas japoneses da atualidade. Em quase todos os seus filmes, ele explora histórias de família, como aconteceu em “Pais e Filhos”, que também ganhou a Palma de Ouro de Cannes em 2013. Em “Assunto de Família”, o foco é na família Shibata: Osamu (Lily Franky), o pai, Nobuyo (Sakura Andô), a mãe, Hatsue (Kiki Kirin), a avó, e mais três adolescentes. São bastante pobres e vivem amontoados numa pequena casa, mas são muito unidos e alegres, fazem suas refeições juntos e conversam bastante sobre o dia-a-dia de cada um. Mesmo diante da situação de penúria em que vivem, eles ainda acolhem a pequena Yuri, uma menina que costuma ser maltratada pelos pais. Apesar de toda essa bondade, a família Shibata guarda segredos muito sombrios, que serão revelados no desfecho. Enfim, mais um belo drama de Koreeda, que, apesar de não ter um happy end, é repleto de momentos comoventes e sensíveis. E que atriz maravilhosa é essa Sakura Andô. Imperdível para quem curte cinema de qualidade.   

domingo, 2 de junho de 2019


“DOGMAN” – 2018, Itália, 1h39m, roteiro e direção de Matteo Garrone. Representante da Itália na disputa do Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro, “Dogman” estreou no 71º Festival de Cannes, em maio de 2018, sendo elogiado pelos críticos e pelo público, além de ver premiado o ator Marcello Fonte com a Palma de Melhor Ator. Uma conquista incrível, já que Fonte nunca foi ator. Na vida real, é jardineiro num centro social em Roma. Sua atuação é impressionante, o maior trunfo do filme. Ele interpreta Marcello, proprietário de um pequeno petshop (“Dogman”) na periferia pobre da cidade de Castel Volturno, em Campânia, sul da Itália. Muito querido pelos moradores do bairro, Marcello tem um carinho todo especial pelos cães que recebe principalmente para dar banho e tosar. Com seu jeito bonachão, ingênuo e simplório, ele costuma se submeter aos maus-tratos de Simone (Edoardo Pesce), um ex-boxeador que vive aterrorizando o pessoal do bairro. Todo mundo morre de medo do sujeito. Além de violento, Simone é viciado em cocaína e quem fornece a droga a ele é justamente Marcello, que nunca recebeu um tostão por isso. Quando cobrou, quase levou uma surra. O relacionamento de Marcello com Simone é o mote da história. Como se fosse uma luta de boxe: Marcello apanha muito durante 12 rounds, mas no 13º vira o jogo também de forma violenta. A caça vira o caçador. Mais um ótimo filme do cineasta italiano Matteo Garrone, que já havia nos brindado com os excelentes “Reality – A Grande Ilusão”, “O Conto dos Contos” e, especialmente, “Gomorra”, ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2008. Para escrever “Dogman”, Garrone se inspirou num crime ocorrido nos anos 80 que chocou a Itália. Imperdível!