sábado, 20 de novembro de 2021

 

“SUSPEITA” (“KLEC”), 2019, República Tcheca, 1h26m, disponível na plataforma Amazon Prime Video, direção de Jirí Strach, com roteiro de Marek Epstein. Trata-se de um drama psicológico com altas doses de suspense. A sra. Kveta Galová (Jirina Bohdalova) é uma idosa solitária cuja única atividade se resume em realizar trabalho voluntário na igreja da comunidade. Durante 15 anos ela ajudou o padre Jan (Viktor Preiss) nos afazeres da igreja, fazendo faxina, lavando roupas, arrumando as flores e levando, duas vezes por semana, o almoço do pároco. Uma verdadeira e fiel sacristã. Um dia, porém, quando Jan é transferido para outra paróquia, o novo padre dispensa Galová. Quando parecia que a idosa teria um futuro ainda mais solitário, eis que surge em sua vida Daniel Baxa (Kristof Hádek), um jovem e simpático rapaz que se identifica como um membro distante de sua família. Animada com a nova amizade, Galová abre as portas de sua casa para o rapaz, sem saber que ele tem outras intenções. Com um roteiro enxuto, impecável, Jiríu Strach conduz o filme com enorme competência, ressaltando o suspense até o fim. Embora mais de 90% do filme envolva apenas dois personagens, a idosa e o jovem, presos em um apartamento, não há espaço para o tédio, restando um jogo psicológico entre vítima e agressor que permanecerá até o desfecho. “Suspeita” é aquele tipo de filme que leva você a querer saber o que acontecerá no final, ou seja, um suspense de qualidade. Vale a pena conferir.               

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

“TENHO MEDO TOUREIRO” (“TENGO MIEDO TORERO”), 2020, coprodução Chile/Argentina, 1h33m, disponível na plataforma Amazon Prime Video, direção de Rodrigo Sepúlveda, que também assina o roteiro com a colaboração de Juan Elias Tovar. Trata-se de uma adaptação para o cinema do livro homônimo escrito em 2001 por Pedro Lemebel (1952-2015). Lemebel foi um polêmico militante do partido comunista chileno, além de artista assumidamente gay. A história do filme é centrada no velho e solitário travesti conhecido como “La Loca Del Frente” (Alfredo Castro), que mora numa casa localizada na periferia pobre de Santiago. Estamos em 1986, com o Chile vivendo em plena ditadura do General Augusto Pinochet. A fonte de renda do travesti vem de programas amorosos à noite e de bordar toalhas de mesa. Algumas de suas clientes são esposas de militares. “La Loca” faz amizade com o jovem Carlos (Leonardo Ortizgris), que no começo esconde o fato de ser militante e guerrilheiro da Frente Patriótica Manoel Rodríguez, organização que luta contra o governo Pinochet. Ao ganhar a confiança do travesti, Carlos pede a ele que guarde algumas caixas de livros em sua casa – no fundo delas estão escondidas armas que serão utilizadas pelos membros da organização. Além disso, a casa de “La Loca” serve como local de reuniões clandestinas de Carlos e seus companheiros. Mesmo sabendo que corre perigo ao ceder sua casa para os guerrilheiros, o travesti assume o risco em nome do amor. Sim, ele está apaixonado por Carlos. No decorrer da história, esse amor é correspondido, mas não espere por um happy end. A estreia do filme ocorreu durante o Festival de Cinema de Veneza/2020 e arrancou muitos elogios da crítica e do público, assim como aconteceu em inúmeros festivais pelo mundo afora. Realmente, o filme é muito bom, destacando-se, em primeiro lugar, a impressionante atuação do veterano ator chileno Alfredo Castro (“Post Mortem”, “Neruda” e “El Club”). Outro destaque fica por conta da deliciosa trilha sonora, com ótimos boleros (“Tengo Miedo Torero” é um deles) e a presença da nossa Elis Regina cantando “Na Batucada da Vida” em espanhol. O elenco também é destaque. Além de Castro e Ortizgris, participam Julieta Zylberberg, Amparo Noguera, Sergio Hernandez, Luis Gnecco e Paulina Urrutia. Trocando em miúdos, “Tengo Miedo Torero” é imperdível, mais um gol de placa do  cinema chileno.              

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

 

“VINGANÇA A SANGUE-FRIO” (“COLD PURSUIT”), 2019, coprodução Estados Unidos/Inglaterra, 1h59m, disponível na plataforma Amazon Prime Video, direção de Hans Petter Moland, com roteiro de Frank Baldwin. É o remake do norueguês “Cidadão do Ano”, de 2014, cuja história foi escrita pelo romancista e roteirista dinamarquês Kim Fupz Aakeson – o diretor é o mesmo Hans Petter Moland. Na adaptação hollywoodiana, o filme é ambientado na pequena cidade de Kehoe (Estado do Colorado), situada nas Montanhas Rochosas. O personagem principal é Nels Coxman (Liam Neeson), motorista de um caminhão limpa-neves (snowplow). Logo no começo do filme, Nels é homenageado com o título de “Cidadão do Ano” da cidade em reconhecimento ao seu importante trabalho. Mas sua alegria dura pouco, pois em seguida fica sabendo que seu filho Kyle (Micheál Neeson, filho de Liam na vida real), foi encontrado morto por causa de uma overdose de cocaína. Logo depois, ele é abandonado pela mulher, Grace (Laura Dern). Como Nels sabia que o filho não era viciado, passou a investigar por conta própria e conseguiu descobrir que Kyle, na verdade, foi assassinado pela gangue do poderoso traficante Trevor Calcote, o “Viking” (Tom Bateman, ótimo). Nels vai atrás de cada um dos responsáveis e elimina todos, um por um, só faltando o mandante, o “Viking”. No meio de toda essa matança, a história acaba envolvendo uma tribo de índios traficantes de cocaína, chefiados pelo chefe “Búfalo Branco” (Tom Jackson), além de um assassino profissional arrogante, Leighton “O Esquimó” (Arnold Pinnock). Muita gente vai morrer na história, jorra sangue o tempo inteiro, mas o bom humor permeia todo o filme. Humor negro, mas muito engraçado, de gargalhar. São ótimas sacadas do roteiro, como “homenagear” cada morto com um obituário especial na cena seguinte à sua morte. Os diálogos e as situações são hilariantes. Para você ter uma ideia, dois capangas do temível traficante “Viking” são homossexuais e amantes. O espaço é pequeno para enumerar tantas cenas engraçadas. A grande sacada é justamente essa, começar o filme com jeito de sério e de repente descambar para a comédia, mas tentando ainda manter uma aparente seriedade. “Vingança a Sangue-Frio” também marca a estreia do diretor norueguês Hans Petter Moland em território hollywoodiano. E que estreia. Não perca!          

terça-feira, 16 de novembro de 2021


“O PLANO PERFEITO 2” (“INSIDE MAN: MOST WANTED”), 2019, Estados Unidos, produção Universal Studios, distribuição Amazon Prime Video, 1h45m, direção de Michael J. Bassett, seguindo roteiro de Brian Brightly. Mais do que uma sequência do primeiro “O Plano Perfeito", de 2006, este nº2 é praticamente uma refilmagem, só que uma diferença importante: o primeiro foi dirigido por Spike Lee e tinha no elenco Denzel Washington, Clive Owen, Jodie Foster, Christopher Plummer e Willem Dafoe. Só tinha fera e acabou sendo um enorme sucesso de bilheteria. Este nº2 tem como principais protagonistas Roxanne McKee, Rhea Seehorn e Aml Ameen. Convenhamos, é impossível qualquer comparação. Não que a sequência seja ruim. Enquanto no primeiro o objetivo dos assaltantes eram os diamantes nazistas, neste segundo o alvo é o ouro confiscado dos alemães em 1945, no final da Segunda Grande Guerra e que desde então estava guardado no Banco Central dos EUA (Federal Reserv), em Nova Iorque. A quadrilha age em nome de uma organização neonazista alemã. Os assaltantes ocupam o banco, fazendo dezenas de reféns. É aí que entram em ação dois negociadores, um da polícia de Nova Iorque, o policial Remy Darbonne (Aml Ameen), e a dra. Brynn Stewart (Rhea Seehorn), do FBI. Da parte dos bandidos, quem assume a negociação é Ariella Barashe (Roxanne McKee). Enquanto isso, os assaltantes tentam cavar um túnel para fugir pelo outro lado do banco, beirando o rio Hudson, e assim burlar o grande cerco policial. Para enganar, eles pedem dois carros-forte e um avião. Enfim, não há muita ação durante o roubo, a não ser no desfecho, que é quando tudo acontece de verdade. Trocando em miúdos, esta segunda versão não chega a decepcionar, mas passa muito longe da qualidade do original de Spike Lee. Para encerrar meu comentário, um aviso: não desligue antes dos créditos finais, quando há uma cena que explica o destino de um dos personagens principais.         

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

 

“O CÂNTICO DOS NOMES” (“THE SONG OF NAMES”), 2019, Canadá/Estados Unidos, 1h53m, disponível na plataforma Amazon Prime Video, direção de François Girard, com roteiro de Jeffrey Caine. Trata-se de um belíssimo drama ficcional inspirado no livro homônimo escrito em 2001 pelo jornalista inglês e crítico musical Norman Lebrecht. Às vésperas da invasão alemã à Polônia, em 1939, o menino Dovidl Rappaport é levado pelo pai judeu para a Inglaterra para se aperfeiçoar nos estudos de violino e, ao mesmo tempo, escapar da invasão nazista. Aos 9 anos, um gênio do violino, Dovidl é acolhido pela família de Gilbert Simmonds (Stanley Townsend), um aficionado pela música clássica. Dovidl logo faz amizade com o filho de Gilbert, Martin (Misha Handley), e ambos são criados como irmãos. A partir daí, o filme acompanha a trajetória e Dovidl e Martin durante os próximos 45 anos. A amizade entre os dois seria abalada por um fato ocorrido em 1951. Martin promoveu um importante concerto em Londres durante o qual Dovidl seria o violinista principal. Resumo da ópera, Dovidl não apareceu. Simplesmente sumiu. E assim ficou sumido por mais de 40 anos. Martin jamais desistiu de achar o amigo, viajando pela Europa toda e depois para os Estados Unidos, onde finalmente o reencontraria. No filme, Dovidl é vivido, aos 9 anos, por Luke Doyle (ator que também é um excelente violinista), na juventude, por Jonah Hauer-King, e como adulto por Clive Owen. Martin menino é interpretado por Misha Handley, na juventude por Gerran Howell e adulto por Tim Roth. Também estão no elenco Stanley Townsend, Catherine McCormack, Jeffrey Caine, Saul Rubinek, Amy Sloan, Magdalena Cielecka e Marina Hambro. Além de ter como pano de fundo a questão do holocausto judeu durante a Segunda Grande Guerra, a história possui um forte conteúdo musical. Não poderia ser de outra forma, pois o diretor canadense François Girard é especialista no gênero musical, como já provou dirigindo filmes como, por exemplo, “O Coro (2014), “O Violino Vermelho” (1998) e ”Bach Cello Suite #2: The Sound Of Carceri” (1997). O ator Tim Roth também tem seu currículo ligado à música, pois atuou como personagem principal também no filme "A Lenda do Pianista do Mar", de 1998, mais uma pequena obra-prima do diretor italiano Giuseppe Tornatore. Outros destaques que merecem ser citados dizem respeito à excelente fotografia, ao competente roteiro e à primorosa recriação de época. Sem falar na exuberante trilha sonora – na verdade, os solos são executados pelo violinista Ray Chen, nascido em Taiwan e radicado atualmente na Austrália. Aspectos da tradição judaica também merecem destaque na história, como aquele que dá nome ao filme, que é o ato de cantar e citar em voz alta, na sinagoga, os nomes dos judeus que perderem a vida nos campos de concentração - no caso do filme, o campo de Treblinka. Momentos comoventes como esse permeiam por todo o filme, valorizando ainda mais a história que, por si só, já coloca “O Cântico dos Nomes” como um dos melhores lançamentos da Amazon Prime Video neste ano. Imperdível!