sábado, 13 de junho de 2020



“ESTÁ TUDO CERTO” (“ALLES IST GUT”), 2018, Alemanha, 1h33m, disponível na plataforma Netflix, filme de estreia de Eva Trobisch como roteirista e diretora. O drama é centrado na editora de livros Janne (Aenne Schwarz), que depois de uma festa de confraternização no escritório acaba sendo estuprada por Martin (Hans Löw), seu colega de trabalho e cunhado do seu chefe Robert (Tilo Nest). Acompanhei a cena e não vi violência por parte de Martin, mas, sem dúvida, foi estupro, embora tenha parecido sexo não consentido - o que é mesma coisa segundo a lei. Para a vítima, porém, será sempre um estupro. Ao invés de denunciar o fato, Janne resolve tocar sua vida normalmente, como se nada tivesse acontecido. Aliás, aceitar as coisas como elas são é uma das características de sua personalidade. Exemplo disso é a cena da lanchonete, quando ela pede um determinado sanduíche e acaba vindo outro. Ao invés de exigir a troca do sanduíche, ela diz à atendente que “está tudo certo”, o que justifica o título. Janne continua sua rotina diária sem comentar o caso com ninguém, muito menos com o namorado Piet (Andreas Döhler), com quem tem uma relação bastante tumultuada. Como diz o velho ditado, “Na prática, a teoria é outra”, pois no fundo Janne continua traumatizada, o que, aos poucos, vai abalando o seu lado psicológico. Ainda mais quando é obrigada a conviver no ambiente de trabalho com seu estuprador. Embora caminhe num ritmo bastante lento, uma escolha da diretora para explorar os sentimentos de Janne, “Está Tudo Certo” é um drama bastante consistente ao tratar de um tema bastante polêmico e atual. A excelente atriz Aenne Schwarz arrasa no papel da vítima do estupro, alternando expressões de tristeza e revolta. Enfim, um bom drama alemão que merece ser visto.   

quinta-feira, 11 de junho de 2020


“JÁ NÃO ME SINTO EM CASA NESSE MUNDO” (“I DON’T FEEL AT HOME IN THIS WORLD”), 2017, Estados Unidos, produção Netflix, 1h36m, estreia no roteiro e direção de Macon Blair. E que ótima estreia. Uma pequena joia do cinema independente norte-americano, tanto que foi o vencedor do júri do Festival de Cinema de Sundance 2017. O filme é um misto de drama, policial, suspense e comédia, com pitadas de humor negro. A trama é toda centrada na trintona Ruth Kimke (Melanie Lynskey, a Rose de “Two and a Half Men”), uma mulher solitária, amargurada, que não é dada a socializar por considerar as pessoas mal-educadas e sem noção de cidadania. Ela vive revoltada com as injustiças do cotidiano, principalmente aqueles ligadas à má educação, como um vizinho que não recolhe as fezes do cachorro, alguém que deixa cair uma mercadoria no chão e não repõe na prateleira ou então aquele cara que no balcão de um bar conta o final do livro que ela está lendo. Um dia, ao voltar do trabalho, ela percebe que sua casa foi assaltada. Roubaram seu computador e os talheres de prata que ganhou da avó. Mais do que o produto do roubo, o que mais indigna Ruth é o fato de terem invadido sua casa sem permissão. De nada adiantou chamar a polícia, pois não deram muita bola para o caso e nem se esforçaram para investigar. Aí foi a gota d’água. Ao lado de Tony (Elijah Wood, o Frodo de “O Senhor dos Anéis”), um vizinho esquisito que pensa como ela, Ruth vai tentar achar os ladrões por conta própria, recheando o filme com muitas situações de perigo a reforçar o suspense, mas sem nunca deixar de lado o bom humor. Completam o elenco David Yow, Jane Levy, Macon Blair, Devon Graye, Christine Woods e Gary Anthony Williams. Sem dúvida, um filme surpreendente e muito criativo, garantindo um ótimo entretenimento. Imperdível!  

quarta-feira, 10 de junho de 2020


“A RAINHA DA ESPANHA” (“LA REINA DE ESPAÑA”), 2016, Espanha, disponível na plataforma Netflix, 2h08m, roteiro e direção do veterano cineasta Fernando Trueba. A história é ambientada nos anos 50 e tem como figura central Macarena Granada (Penélope Cruz), atriz espanhola que faz maior sucesso em Hollywood. Na época, havia um grande esforço de estreitar o relacionamento diplomático entre os Estados Unidos e a Espanha franquista. Para colaborar com esse esforço, um estúdio de Hollywood resolveu investir numa superprodução a ser filmada na Espanha: “La Reina de España”, sobre a Rainha Isabel I de Castela, a “Católica”. Para o papel principal foi escalada justamente Macarena Granada, assim como o diretor John Scott (Clive Revill), uma clara referência ao famoso cineasta austríaco Fritz Lang, que fez grande sucesso em Hollywood com seu famoso tapa-olho. Durante as filmagens, John Scott dormia o tempo inteiro e só era acordado para gritar “Ação!” e “Corta!”, em cenas muito divertidas. Para agradar os espanhóis, a produção resolveu dividir a direção com o cineasta espanhol Blas Fontiveros (Antonio Resines). A história toda de “A Rainha da Espanha” se desenvolve nos bastidores das filmagens, mostrando as dificuldades de se adaptar o roteiro ao gosto do governo franquista. Ainda nos bastidores, o filme destaca o fogo sexual de Macarena, que logo no início das filmagens começa um caso com o jovem Leo (o ator argentino Chino Darín, filho do astro Ricardo Darín), um simples assistente de produção. Em meio às filmagens, o diretor Fontiveros é sequestrado pela polícia secreta de Franco e vai parar num campo de trabalhos forçados. O elenco resolve resgatá-lo, utilizando para isso dezenas de figurantes do exército da Rainha. Como se isso tudo não bastasse, o set de filmagens ainda será visitado pelo próprio generalíssimo Francisco Franco (Carlos Areces). Haja fôlego para acompanhar isso tudo, realizado num ritmo alucinante e muito divertido. Completam o elenco Jorge Sanz, Mandy Patinkin e Javier Cámara. Enfim,  “A Rainha da Espanha” é uma ótima comédia, além de fazer uma singela homenagem ao mundo do Cinema. Imperdível!     

terça-feira, 9 de junho de 2020


“THI MAI: RUMO AO VIETNAM” (“THI MAI, RUMBO A VIETNAM”), 2017, Espanha, distribuição Netflix, 1h39m, direção de Patrícia Ferreira, com roteiro de Marta Sánchez. Trata-se de uma comédia bastante simpática e divertida para assistir com toda a família. Depois da morte da filha em um acidente de carro, Carmen (Carmen Machi) descobre que ela dera entrada numa papelada para a adoção de uma criança órfã do Vietnã, a Thi Mai do título. Na companhia das amigas Rosa (Adriana Ozores) e Elvira (Aitana Sánches-Gijón), Carmen viaja para Hanói (capital do Vietnam), onde fica o orfanato de Thi Mai. Na verdade, as amigas embarcam numa grande e divertida aventura, repleta de situações hilariantes, principalmente no que se refere aos costumes dos vietnamitas,  muito diferentes do mundo ocidental. Nas suas peripécias em Hanói, Carmen, Elvira e Rosa conhecerão Andrés (Dani Rovira), um espanhol que tinha viajado para a capital do Vietnam com o objetivo de encontrar o ex-namorado. A turma vira um quarteto e, juntos, tentarão convencer as autoridades vietnamitas a liberar a papelada exigida para concretizar a adoção de Thi Mai, para a qual contarão com a ajuda de Dan (Eric Nguyen), um simpático guia turístico de Hanói. O grande trunfo do filme é, sem dúvida, o trio principal de protagonistas: Carmen Machi é mais conhecida por ser uma das atrizes preferidas do diretor Pedro Almodóvar; Adriana Ozores, uma das mais importantes atrizes de teatro e cinema da Espanha; e a italiana Aitana Sánches-Gijón, cuja beleza e competência eu já conhecia desde que a vi pela primeira vez atuando em “Caminhando nas Nuvens”, de 1995, no qual contracenou com Anthony Quinn e fez par romântico com Keanu Reeves. Aos 51 anos, Aitana continua linda, charmosa e competente. É a atuação destas três grandes atrizes – e a química entre elas - que faz com que “Thi Mai” seja uma comédia bastante agradável e divertida. Imperdível!  

segunda-feira, 8 de junho de 2020


“ALELÍ”, 2019, coprodução Uruguai/Argentina, 1h30, segundo longa-metragem escrito e dirigido pela cineasta uruguaia Letícia Jorge Romero, com a colaboração de Ana Guevara Pose. Trata-se de uma comédia familiar bastante divertida que comprova um velho ditado: “Toda família é igual. Só muda o endereço”. Após a morte de Alfredo, o patriarca da família, a viúva Alba (Cristina Morán) e os três filhos Ernesto (Nestor Guzzini), Lilián (Mirella Pascual) e Silvana (Romina Peluffo) convocam uma reunião para decidir o que fazer com a antiga casa de praia, carinhosamente chamada de “ALELÍ”, cujas iniciais significam os nomes do pessoal: “AL” de Alba e o falecido Alfredo; “E” de Ernesto e “LÍ” de Lílian (Silvana, a mais nova, ainda não havia nascido). Uma série de confusões, discussões e lavagem de roupa suja acontecem durante a reunião, como em qualquer família. Um dos assuntos foi, inclusive, a possibilidade de internar a mãe num asilo. Os diálogos são hilariantes. Silvana foi um dos alvos das críticas da mãe e dos irmãos, pois vive uma separação atrás da outra, não consegue segurar um casamento. Ela ficou tão chateada  por ser criticada que acabou indo afogar as mágoas na velha casa de praia. Logo depois chega também seu irmão Ernesto, preocupado com a irmã mais nova. Aqui, na velha casa, surgem as situações mais engraçadas, principalmente aquelas que envolvem os velhos vizinhos. Enfim, “Alelí” é aquele tipo de filme feito para garantir um ótimo entretenimento.  Como afirmou a diretora Letícia Jorge Romero, "Alelí é uma comédia farsesca sobre a família". O filme, já disponível na plataforma Netflix, foi exibido por aqui na Mostra Première Latina do Festival Internacional de Cinema do Rio/2019. Diversão garantida!