quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Típico representante do cinema de arte francês, “O IGNORANTE” (“Le Cancre”), 2016, tem roteiro e direção de Paul Vecchiali, que ainda atua como o personagem principal. É basicamente uma obra teatral, verborrágica e musical, com diálogos bastante inspirados e bem-humorados, mas muitas vezes arrastados além da conta. A base da história é o difícil relacionamento entre Rodolphe (Vecchiali) e seu filho Laurent (Pascal Cervo). Ao discutir sua vida com Laurent, Rodolphe faz um balanço reflexivo da sua agitada vida amorosa. Nesse ponto, as mulheres com as que se relacionou surgem em cena para conversar com Rodolphe e relembrar o romance que tiveram, os altos e baixos e, principalmente, tentam descobrir o que não deu certo nas respectivas relações. Fica evidente, desde o início, que Rodolphe só teve um grande amor na vida, sua cunhada Marguerite (Catherine Deneuve), irmã de sua esposa. Os momentos mais engraçados ficam por conta da falta de sintonia entre pai e filho. Rodolphe tem a pose aristocrática, veste hobby de chambre e echarpes, enquanto Laurent não troca um moletom surrado, alvo constante da implicância do seu pai. Além de Vecchiali, Cervo e Deneuve, completam o elenco atores e atrizes consagrados do cinema e teatro francês, como Mathieu Amalric, Annie Cordy, Françoise Lebrun, Françoise Arnoul, Edith Scob e Marianne Basler. Sem dúvida, um filme bastante interessante e inteligente, mas muito longe de agradar o grande público.    



terça-feira, 5 de dezembro de 2017

“VIVA”, 2015, coprodução Irlanda/Cuba, direção de Paddy Breathnach, com roteiro de Mark O’Halloran. O drama é centrado no jovem Jesus (Héctor Medina), de 18 anos, que vive perambulando pelas ruas de Havana tentando sobreviver fazendo bicos como garoto de programa – os principais clientes são os turistas que visitam a ilha – e como maquiador e penteador de perucas num clube noturno de drag queens. Ele gosta de cantar e um dia pede uma chance ao dono do clube para fazer uma apresentação com o nome artístico de “Viva”, o que justifica o título do filme. Jesus faz sucesso e acaba incluído na programação. Tudo vai bem até aparecer seu pai Angel (o ótimo Jorge Perugorría), um ex-boxeador que estava preso há 15 anos. Claro que ele, machão convicto, não vai gostar do que o filho está fazendo e aí os dois entram em conflito, dificultando o relacionamento. Ao mesmo tempo, o filme pinta um quadro não muito otimista sobre o regime cubano: mostra uma Havana triste, com muitos desempregados e gente sem esperança. As pessoas vivem pedindo dinheiro emprestado para comprar comida. Para contrastar, “Viva” apresenta um sistema público de saúde que funciona para os mais pobres, principalmente quando Jesus precisa internar o pai gravemente enfermo. O filme foi premiado em vários festivais pelo mundo afora e representou a Irlanda na disputa do Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro – foi um dos 9 pré-finalistas. Sua primeira exibição por aqui, antes do circuito comercial, aconteceu durante o 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2016. Resumo da ópera: um ótimo filme que merece ser visto por quem aprecia cinema de qualidade. 

domingo, 3 de dezembro de 2017

Baseado em fatos reais, “O ZOOLÓGICO DE VARSÓVIA” (“The Zookeeper’s Wife”), 2017, EUA/Polônia, direção da norte-americana Niki Caro, conta a incrível história do casal Antonina e Jan Zabinski, que durante a Segunda Guerra Mundial salvou centenas de judeus enquanto a Polônia era dominada pelos alemães. Antonina (Jessica Chastain) e Jan (o ator belga Johan Heldenbergh) eram proprietários do Zoológico de Varsóvia quando a invasão nazista aconteceu, em setembro de 1939. Nessa época, mantinham uma grande amizade com o zoologista alemão Lutz Heck (Daniel Brühl), dono de um zoológico em Berlim, que depois da invasão virou oficial nazista. Jan e Antonina ajudaram centenas de judeus a fugir dos guetos de Varsóvia para escondê-los no seu zoológico – segundo o livro “The Zookeepers’s Wilfe: A War Story”, escrito pela norte-americana Diane Akerman, no qual o filme é baseado, o casal conseguiu salvar mais de 300 judeus. Um filme emocionante e tocante, embora muito triste e, em alguns momentos, bastante chocante. Jessica Chastain mais uma vez domina o cenário com sua habitual competência. Uma história de coragem que merece ser conhecida.       

  
“UM INSTANTE DE AMOR” (“Mal De Pierres”), 2016, França, 120 minutos, direção da atriz, roteirista e diretora Nicole Garcia, que escreveu o roteiro em conjunto com Jacques Fieschi e Natalie Carter. A história, baseada no romance best-seller “Mal Di Pietre”, da escritora italiana Milena Agus, é ambientada nos anos 50 numa pequena aldeia francesa, onde a jovem Gabrielle (Marion Cotillard) é conhecida por sua rebeldia e por sua compulsão sexual. Ao ser rejeitada por um professor casado, Gabrielle entra em surto e passa a se comportar de um modo bastante anormal. A solução encontrada por seus pais foi arranjar um casamento com o pedreiro José (o ator espanhol Alex Brendmühl). Com dificuldade para engravidar, Gabrielle é examinada por um médico, que diagnosticou o tal “Mal de Pierres”, aqui conhecido como cálculo renal. Gabrielle então é encaminhada a um spa nos alpes suíços e inicia um tratamento para eliminar as pedras no rim. Aqui, ela conhece o tenente André Sauvage (Louis Garrel), pelo qual se apaixona perdidamente, colocando em risco o seu casamento com José. O filme comprova mais uma vez o talento dramático de Marion Cotillard, já demonstrado em “Ferrugem e Osso”, “Era uma vez em Nova Iorque” e, principalmente, em “Piaf – Um Hino ao Amor”, pelo qual foi premiada com o Oscar de Melhor Atriz em 2007. Além de tudo isso, ela é linda. “Um Instante de Amor” é muito bom e merece ser conferido. Segundo o crítico Cássio Starling Carlos, da Folha de S. Paulo, trata-se de “Um bom champanhe servido em copo de plástico”. Ou seja, ele não achou tão bom como eu achei. A primeira exibição de "Um Instante de Amor" por aqui aconteceu durante o Festival Varilux de Cinema Francês/2017.