sábado, 11 de abril de 2020


“TALK-SHOW: REINVENTANDO A COMÉDIA” (“LATE NIGHT”), 2019, Estados Unidos, 1h43m, direção de Nisha Ganatra, com roteiro de Mindy Kalinga, que também atua no filme. A produção divulgou o filme como uma comédia, mas achei que está mais para o drama, embora tenha algumas (poucas) cenas cômicas. Vamos à história: Katherine Newbury (Emma Thompson) é uma consagrada apresentadora de um programa de entrevistas na TV norte-americana. Está há 25 anos no ar, valendo-se de frases bem-humoradas para conquistar o público e de convidados importantes, entre eles celebridades do mundo político e artístico. Aos poucos, porém, a fórmula sofre um desgaste e o programa começa a perder audiência. Quando recebe a notícia de que será substituída se não melhorar a audiência, Katherine convoca seu produtor e sua equipe de roteiristas para uma reunião urgente. Dela acaba participando a jovem Molly Patel (Mindy Kaling), única mulher entre o grupo de roteiristas. Ela não é bem recebida pelos colegas e muito menos por Katherine. Aos poucos, porém, Molly começa a conquistar a confiança de todos, graças à sua sinceridade nas reuniões e às suas sugestões criativas e audaciosas. Como pano de fundo da história, lembrando que a diretora, a roteirista e as principais atrizes são mulheres, está uma evidente crítica ao machismo generalizado na indústria do entretenimento. O roteiro, o primeiro escrito pela atriz Mindy Kaling, é bastante inteligente ao expor o problema sem assumir uma atitude feminista radical. O maior trunfo do filme, porém, é a atuação magistral da grande atriz inglesa Emma Thompson, que leva o filme nas costas. Também estão no elenco John Lithgow e Amy Ryan. Enfim, entretenimento garantido, agradável e inteligente. O filme ainda não chegou ao nosso circuito comercial. Só foi exibido durante o Festival Internacional de Cinema do Rio, em dezembro de 2019. 


sexta-feira, 10 de abril de 2020


“LINHA RETA” (“THE HUMMINGBIRD PROJECT”), 2019, Canadá, 1h50m, roteiro e direção de Kim Nguyen. No início, foi muito difícil entender o que estava acontecendo, mas vou tentar fazer um resumo. Os primos Vincent (Jesse Eisenberg) e Anton Zaleski (o ator sueco Alexander Skarsgard) trabalham numa empresa de TI (Tecnologia de Informação) em Nova Iorque comandada pela durona Eva Torres (Salma Hayek). Em segredo, os dois bolam um plano mirabolante e audacioso: construir um cabo de fibra ótica em linha reta do Kansas a Nova Jersey (cerca de 2 mil quilômetros). Pelo que entendi – confesso ser completamente leigo em TI -, o objetivo é acelerar o tempo de frequência das informações da bolsa de valores em milissegundos, o que lhes daria a vantagem de sair na frente dos concorrentes. Para bancar o projeto, eles conseguem convencer um grande investidor de Wall Street a entrar com o capital necessário, prometendo um lucro de bilhões. Projeto pronto, eles resolvem se demitir da empresa de Torres, que fica revoltada com a “traição” dos seus funcionários mais competentes, Anton, um gênio da informática, e Vincent, um estrategista e negociador dos melhores no mercado.  A partir daí, o filme acompanha todas as fases de construção do cabo de fibra ótica, o que envolve a contratação de empresas especializadas e negociação com os proprietários dos terrenos por onde passará o tal cabo. Nessa fase, o filme melhora muito, ganha ritmo e ação, mostrando as dificuldades e os desafios interpostos no caminho. Muita coisa acontece durante a execução da obra, inclusive uma uma série de reviravoltas que coloca o filme num ritmo quase que frenético. Excelente o trabalho de roteiro e direção do cineasta canadense Kim Nguyen, que passei a admirar depois de ter assistido o maravilhoso “Rebelle” (“A Feiticeira da Guerra”), que representou o Canadá na disputa do Oscar de 2013 de Melhor Filme Estrangeiro. “Linha Reta” é excelente, valorizado ainda mais pela ótima atuação do trio Eisenberg/Skarsgard/Hayek. Imperdível!  


quinta-feira, 9 de abril de 2020


“KV-1 – ALMAS DE FERRO” (“NESOKRUSHIMYY”), 2018, Rússia, 1h30, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Konstantin Maximov. O cinema de Hollywood, sempre baseado em fatos reais, já fez e continua fazendo inúmeros filmes enaltecendo os feitos heroicos dos soldados norte-americanos durante a Segunda Grande Guerra, assim como já fizeram tantos outros países. Inclusive a Rússia, de onde vem “KV-1”, que conta a história dos tripulantes de um tanque da 15ª Brigada Motorizada que, sozinhos, em 1942, destruíram 16 tanques alemães, dois veículos blindados e outros 8 veículos, o que lhes valeria o título de heróis nacionais. Os alemães haviam tentado invadir Moscou, mas foram rechaçados. O contra-ataque russo colocou em campo sua divisão de tanques em perseguição aos alemães. Um deles, o KV-1 dessa história, cuja tripulação era comandada pelo oficial Semyon Konovalov (Andrey Chernyshov), estava em missão de reconhecimento quando deu de cara com vários tanques inimigos perto da fazenda Nizhmemityakin, no Distrito de Tarasovskoye, na Região de Rostov. A batalha foi feroz, mas os corajosos russos deram conta do recado. Entre uma batalha e outra, o filme ainda guarda espaço para a reconciliação de Konovalov com sua ex-esposa Kavla (Olga Pogodina), em cenas açucaradas demais para quem está no meio de uma guerra. Mais uma história impressionante da fonte inesgotável de episódios gerados pela Segunda Guerra Mundial. Somente por este aspecto vale a pena assistir.

quarta-feira, 8 de abril de 2020


“JUNTAS NO CRIME” (“SWEETHEARTS”), 2019 Alemanha, 1h47m. Seja qual for o país, virou moda colocar o título original em inglês, com vistas, naturalmente, a facilitar a entrada do filme nos países de língua inglesa. Pesquisei o mesmo título em alemão e tem o mesmo significado do inglês: “Namoradas”. Estranhei, pois não é o caso de um filme lésbico. A tradução para o português até que ficou melhor. É o segundo longa-metragem escrito e dirigido pela atriz Karoline Herfurth, que também atua como um dos personagens principais. Trata-se de um misto de comédia, policial e filme de ação. Vamos à história: Mel (Hanna Herzsprung) é mãe solteira e trabalha como funcionária de um grande hospital em Berlim. Nas horas vagas, costuma assaltar joalherias e vender o produto do roubo para importantes receptadores. Um dos assaltos, porém, dá errado, e Mel é obrigada a fazer uma refém, Franny (papel da diretora Herfurth). Aí começa um tipo de road movie. As duas partem pelas estradas afora fugindo da polícia, em meio a várias confusões com gente da pesada. Mas, como refém, Franny é um desastre. Costuma ter ataques violentos de pânico, que só passam quando ela joga um game no celular chamado “Banana Kong”. Em meio à fuga, Mel faz mais um refém, desta vez o policial Harry (Frederick Lau). Aí o filme se perde mostrando situações das mais inverossímeis, terminando num desfecho que beira o ridículo. Como roteirista e diretora, Karoline Herfurth mostrou que continua uma ótima atriz. É um filme simpático, mas, com exceção de alguns momentos de bom humor, nada vi que justifique uma recomendação. A não ser que você queira dar uma folga aos seus neurônios.    

terça-feira, 7 de abril de 2020


“DE QUEM É A CULPA?” (“GUILTY”), 2019, Índia, 1h59m, direção da cineasta Ruchi Narain, com roteiro de Kanika Dhillon. O pano de fundo que inspirou a história é o alarmante crescimento, nos últimos anos, de estupros contra mulheres na Índia, o que justifica o fato da roteirista e da diretora serem do sexo feminino. No caso de “De Quem é a Culpa?”, a vítima é uma jovem estudante que acusa o bonitão da escola de tê-la estuprado. Ele tem uma namorada fixa, é vocalista de uma banda de rock e filho de gente importante ligada ao governo indiano e que, por isso mesmo, a acusação ganha enorme repercussão no país. Como as coisas vão se desenrolando, eu esperava o desfecho num tribunal, mas, para minha decepção, as cenas de julgamento duram poucos segundos. Com exceção de um ou outro adulto, o elenco é constituído em sua grande maioria por jovens adolescentes, o que chega a lembrar de algum episódio de “Malhação”. Posso citar alguns nomes do elenco, mas certamente ninguém por aqui deve conhecê-los, nem mesmo eu, que já vi um monte de filmes indianos. Kiara Advani, Ashrut Jaim e Akansha Ranjan Kapoor. Conhece alguém? Nem eu. Destaco um aspecto muito interessante em relação a “De Quem é a Culpa?”. Trata-se do fato de ser bastante diferente dos filmes de Bollywood. A começar pela ausência daqueles irritantes e entediantes números musicais e de dança, o que achei um ponto bastante positivo. Outro aspecto diz respeito ao fato de que o filme apresenta cenas que Bollywood não costumava filmar, como jovens transando, bebendo álcool, fumando um baseado e falando um monte de palavrões. Aliás, para facilitar seu ingresso no mercado internacional, o filme é quase todo falado em inglês (como o título original) e um pouco de hindi, língua falada por 70% dos indianos. Enfim, “De Quem é a Culpa?” pode ser visto como uma novidade do cinema de Bollywood. Nem bom nem ruim, apenas interessante.       

segunda-feira, 6 de abril de 2020


Representante oficial de Israel na disputa do Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro, “O CONFEITEIRO” (“The Cakemaker”), 1h53, foi é o primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Ofir Raul Graizer, mais conhecido em Israel como diretor de curtas. Sem dúvida, estreou de forma magistral, realizando um filme bastante sensível e muito interessante. A história começa em Berlim e envolve o confeiteiro Thomas (Tim Kalkhof), proprietário de uma confeitaria, e o israelense Oren (Roy Miller), um importante executivo que costuma viajar à Alemanha para cuidar dos negócios de sua empresa. Atraído pela qualidade dos bolos feitos por Thomas, Oren vira um cliente assíduo da confeitaria. Papo vai, papo vem, Oren sente-se atraído não apenas pelos bolos, mas também pelo confeiteiro. Embora casado em Israel e pai de um menino, Oren assume o romance com Thomas, resultando num aumento de viagens a Berlim. O caso fica mais sério, a ponto de Oren pensar em abandonar a família e ir morar com o amante. Um dia, porém, acontece um trágico imprevisto: Oren morre num acidente automobilístico. Devastado pela notícia e, ao mesmo tempo, disposto a conhecer pessoalmente a esposa de Oren, Anat (Sarah Adler), e quem sabe ajudá-la nesse momento difícil, Thomas resolve ir para Jerusalém. Sem se identificar, ele procura trabalho na cafeteria de propriedade de Anat. A partir daí, além de conseguir o trabalho como ajudante de cozinha, Thomas começa a preparar seus famosos cookies e bolos que farão o maior sucesso, atraindo muitos clientes para a cafeteria de Anat. De início, o alemão, por razões históricas óbvias, não foi bem recebido pela família e amigos de Anat. Ainda mais por não ter qualquer vínculo com a religião judaica. Mas Anat segura a barra, até que... A partir daqui, deixo as surpresas do roteiro a quem se dispuser a assistir ao filme, que, como escrevi no início deste comentário, foi escrito e dirigido com muita competência e sensibilidade pelo cineasta israelense. Indicado apenas para o pessoal que, como eu, exige qualidade e curte o bom cinema. Imperdível!