“UMA CRIATURA GENTIL” (“KROTKAYA”), 2017,
uma inusitada coprodução França/Ucrânia/Alemanha/Lituânia/ Rússia/Holanda, 2h40m,
roteiro e direção de Sergey Loznitsa (cineasta ucraniano mais conhecido como
realizador de documentários). Inspirado num conto do escritor russo Fiódor
Dostoiévski, datado de 1876, Loznitsa construiu uma história triste e
melancólica adaptada aos tempos atuais, envolvendo uma mulher simples (a atriz russa Vasilina Makovtseva), cujo
marido está preso acusado de assassinato. Um dia ela vai à agência do correio
de seu vilarejo e recebe um pacote com o selo “retorno ao remetente”. Trata-se
da última encomenda que ela enviou ao marido na prisão. Preocupada com a
situação, a mulher (seu personagem não tem nome) deixa sua casinha e começa um verdadeiro
road movie pelo interior da Rússia, de trem e de ônibus, percorrendo
diversas aldeias e vilarejos onde a pobreza está bem à vista, até chegar ao presídio. Durante esse périplo,
ela conviverá com prostitutas e bêbados, ou seja, gente da pior qualidade.
Também encontrará pessoas que ainda idolatram Stalin e conhecerá a fundo a
terrível burocracia das instituições públicas russas. Quando pede ajuda, é
repelida como se fosse uma prostituta, ainda mais por ser mulher de um presidiário.
Do começo ao fim dessa angustiante jornada, a atriz russa Vasilina Makovtseva conserva
a mesma expressão de tristeza e infelicidade, limitando-se a falar o menos
possível e sempre com um semblante fixo que exala dor e sofrimento. Belo trabalho
dramático da atriz. O filme estreou durante o 70º Festival de Cinema de Cannes (2017), onde
concorreu à Palma de Ouro, foi muito elogiado e rotulado como uma crítica contundente
ao presidente Putin. Aqui no Brasil, foi visto na programação oficial do
Festival Internacional de Cinema do Rio, em dezembro de 2019. “Uma Criatura Gentil”
passa longe de ser um entretenimento agradável de se ver, mas não deixa de ser
um filme de grande impacto político e social.
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