“O
CORVO BRANCO” (“THE WHITE CROW”), 2018, distribuição Amazon Prive Vídeo, coprodução
Inglaterra/França/Sérvia, 2h7m, direção de Ralph Fiennes, que também atua. O roteiro
é assinado por David Hare, que se inspirou no livro “Rudolf Nureyev: The Life”,
da jornalista sul-africana Julie Kavanaugh. Como já deu para perceber, trata-se
de uma cinebiografia do lendário bailarino russo Rudolf Nureyev (1938-1993). O
filme descreve a trajetória de Nureyev desde criança, criado numa família muito
pobre no interior da Rússia, e mais tarde seu ingresso na Academia de Dança de
Leningrado (hoje São Petersburgo). Ainda jovem, ele já demonstrava uma
personalidade muito forte, o que lhe valeu o apelido de “Corvo Branco” (na
verdade, uma gíria usada na Rússia para designar pessoas que fogem do padrão).
Além do seu talento, Nureyev sempre teve um gênio difícil que o acompanharia
até o final dos seus dias. Conforme o seu perfil traçado no filme, o grande bailarino
era um sujeito arrogante, petulante, atrevido e ousado. Ousado, principalmente,
em sua performance nos palcos. Segundo os especialistas, ele revolucionou a
dança clássica, fazendo sua união com o balé moderno. Era, enfim, um gênio. Em
1961, quando participava de uma turnê em Paris com a Companhia Kirov, ele
resolveu pedir asilo, o que resultou em um grande escândalo para o governo russo,
principalmente em meio à guerra fria – Nureyev foi o primeiro artista russo a
pedir asilo no Ocidente. A cena em que ele pede o asilo, no aeroporto Le
Bourget, de onde deveria seguir com a companhia de balé para Londres, é a de
maior tensão no filme. Rudi, como era chamado pelos mais íntimos, foi detido,
antes de embarcar, por agentes da KGB (polícia secreta russa), que o levariam
de volta à Rússia, certamente para ser preso. Nureyev escapou dos agentes e
pediu asilo à polícia do aeroporto. Enfim, uma história incrível que merece ser
conhecida. É preciso destacar o trabalho de Ralph Fiennes como diretor e ator –
ele interpreta o professor de dança Alexander Pushkin, um dos principais
responsáveis pela evolução técnica de Nureyev. Este é o terceiro filme dirigido
por Fiennes (os dois primeiros foram “Coriolano” e “O Nosso Segredo”). Como
ator, ele já conseguiu o seu lugar de destaque, com grandes filmes em seu
currículo, entre os quais “O Paciente Inglês”, “A Lista de Schindler” e “O
Jardineiro Fiel”, além de muitos outros. É preciso destacar também a presença do ucraniano
Oleg Ivenko como Nureyev, que marcou sua estreia como ator. Claro que ele
ganhou o papel por ser um ótimo bailarino, hoje o principal nome da Tatar State
Opera, em Kazan (República do Tartaristão). Seu desempenho como ator também surpreende.
Do elenco – uma verdadeira ONU (franceses, russos, ucranianos, sérvios, ingleses)
- ainda fazem parte Adèle Exarchopoulos, Chulpan Khamatova, Rawschana Kurkowa,
Olivier Rabordin, Sergei Polunin, Louis Hofmann, Raphaël Personnaz e Calypso
Valois. Os idiomas falados no filme são o russo, o inglês e o francês. Enfim, o
filme é ótimo, com destaque para a recriação de época, as coreografias e as visitas
aos grandes museus, uma paixão de Nureyev. “O Corvo Branco” é, portanto, arte
pura. IMPERDÍVEL com letras maiúsculas.
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