Se tiver
oportunidade, não perca “REDE DE ÓDIO” (“HEJTER”), 2020, Polônia, 2h16m,
roteiro de Mateusz Pacewicz e direção de Jan Komasa (“Corpus Christi”, indicado
ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2020). Trata-se de um dos filmes mais interessantes e criativos feitos nos últimos anos, além de polêmico
e impactante. E, acima de tudo, bastante atual, pois trata dessa praga das fake
news, um fenômeno que tem prejudicado muita gente pelo mundo afora. A
história é toda centrada no jovem Tomek (Maciej Musialowski), um estudante de
Direito que acaba de ser expulso da Universidade de Varsóvia por plágio, ou
seja, apresentou um trabalho utilizando um texto que não era seu. Sua trajetória de mentiroso não terminará por aqui. Nas entrevistas de emprego, ele continua
mantendo o status de estudante de Direito. Ele consegue finalmente um trabalho numa
conceituada empresa de relações-públicas de Varsóvia, na verdade uma empresa de
fachada que atua, contratada por clientes importantes, disseminando notícias
falsas (fake news) e manchando a reputação de muita gente, principalmente do mundo
político, artístico e empresarial. Uma verdadeira praga do mundo moderno. Um dos
primeiros trabalhos de Tomek foi inventar maneiras de denegrir a imagem do
político Pawel Rodnick (Maciej Stuhr) às vésperas de uma importante eleição.
Para conseguir subsídios para montar sua estratégia demolidora contra o
político, Tomek se aproxima de uma família importante da sociedade de Varsóvia,
grande apoiadora da candidatura de Pawel. É nesse contexto que Pawel mostrará
seu lado perverso de manipulador e psicopata digital, colocando em prática toda
a sua crueldade virtual em prol do ódio. E não é apenas no mundo virtual que
ele destila toda a sua maldade, mas também no mundo real, envolvendo-se
emocionalmente com as pessoas e enganando-as com suas performances teatrais. Um
perfeito artista do mal, um propagador de ódio. Sua crueldade chega ao auge quando conhece um
fanático extremista nacionalista contrário às ideias do político Pawel, levando
o espectador a acreditar que um desfecho trágico está prestes a acontecer. Também
fazem parte do ótimo elenco Vanessa Aleksander, Danuta Stenka, Agata Kulesza e Jacek
Koman, entre outros atores poloneses da mais alta qualidade. Mas a estrela
máxima é realmente Maciej Musialowski no papel de Tomek, um monstro na interpretação
de outro monstro. “Rede de Ódio” estreou no Festival Internacional de Cinema de
Treblinka (Polônia”), conquistando o prêmio de “Melhor Filme Narrativo
Internacional”. O reconhecimento à sua qualidade não parou por aí. Após ser
lançado na plataforma Netflix, em 29 de junho de 2020, o filme logo passou a
figurar na lista Top 10. A polêmica maior, porém,
aconteceria três semanas depois do final das filmagens, quando Pawel Adamowicz,
prefeito de Gdansk, seria assassinado em pleno evento público. Por causa disso,
o lançamento do filme teve de ser adiado e quase ficou de fora do circuito
comercial na Polônia. Resumo da ópera: “Rede de Ódio” é um filme obrigatório,
poderoso e impactante. Não duvido que seja indicado para representar a Polônia
no Oscar 2021 para disputar o prêmio de “Melhor Filme Estrangeiro”. E com
grandes chances de vencer.
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