terça-feira, 14 de setembro de 2021

 

“O CORVO BRANCO” (“THE WHITE CROW”), 2018, distribuição Amazon Prive Vídeo, coprodução Inglaterra/França/Sérvia, 2h7m, direção de Ralph Fiennes, que também atua. O roteiro é assinado por David Hare, que se inspirou no livro “Rudolf Nureyev: The Life”, da jornalista sul-africana Julie Kavanaugh. Como já deu para perceber, trata-se de uma cinebiografia do lendário bailarino russo Rudolf Nureyev (1938-1993). O filme descreve a trajetória de Nureyev desde criança, criado numa família muito pobre no interior da Rússia, e mais tarde seu ingresso na Academia de Dança de Leningrado (hoje São Petersburgo). Ainda jovem, ele já demonstrava uma personalidade muito forte, o que lhe valeu o apelido de “Corvo Branco” (na verdade, uma gíria usada na Rússia para designar pessoas que fogem do padrão). Além do seu talento, Nureyev sempre teve um gênio difícil que o acompanharia até o final dos seus dias. Conforme o seu perfil traçado no filme, o grande bailarino era um sujeito arrogante, petulante, atrevido e ousado. Ousado, principalmente, em sua performance nos palcos. Segundo os especialistas, ele revolucionou a dança clássica, fazendo sua união com o balé moderno. Era, enfim, um gênio. Em 1961, quando participava de uma turnê em Paris com a Companhia Kirov, ele resolveu pedir asilo, o que resultou em um grande escândalo para o governo russo, principalmente em meio à guerra fria – Nureyev foi o primeiro artista russo a pedir asilo no Ocidente. A cena em que ele pede o asilo, no aeroporto Le Bourget, de onde deveria seguir com a companhia de balé para Londres, é a de maior tensão no filme. Rudi, como era chamado pelos mais íntimos, foi detido, antes de embarcar, por agentes da KGB (polícia secreta russa), que o levariam de volta à Rússia, certamente para ser preso. Nureyev escapou dos agentes e pediu asilo à polícia do aeroporto. Enfim, uma história incrível que merece ser conhecida. É preciso destacar o trabalho de Ralph Fiennes como diretor e ator – ele interpreta o professor de dança Alexander Pushkin, um dos principais responsáveis pela evolução técnica de Nureyev. Este é o terceiro filme dirigido por Fiennes (os dois primeiros foram “Coriolano” e “O Nosso Segredo”). Como ator, ele já conseguiu o seu lugar de destaque, com grandes filmes em seu currículo, entre os quais “O Paciente Inglês”, “A Lista de Schindler” e “O Jardineiro Fiel”, além de muitos outros. É preciso destacar também a presença do ucraniano Oleg Ivenko como Nureyev, que marcou sua estreia como ator. Claro que ele ganhou o papel por ser um ótimo bailarino, hoje o principal nome da Tatar State Opera, em Kazan (República do Tartaristão). Seu desempenho como ator também surpreende. Do elenco – uma verdadeira ONU (franceses, russos, ucranianos, sérvios, ingleses) - ainda fazem parte Adèle Exarchopoulos, Chulpan Khamatova, Rawschana Kurkowa, Olivier Rabordin, Sergei Polunin, Louis Hofmann, Raphaël Personnaz e Calypso Valois. Os idiomas falados no filme são o russo, o inglês e o francês. Enfim, o filme é ótimo, com destaque para a recriação de época, as coreografias e as visitas aos grandes museus, uma paixão de Nureyev. “O Corvo Branco” é, portanto, arte pura. IMPERDÍVEL com letras maiúsculas.      

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