“O VOO SEQUESTRADO” (“HIJACK ‘93”), 2024,
Nigéria, 1h26m, em cartaz na Netflix, direção de Robert Peters, seguindo
roteiro assinado por Musa Jeffery David. Não torça o nariz só porque o filme é
nigeriano. Digo isso porque já assisti a vários filmes muito bons feitos em Nollywood
– como é chamado o cinema da Nigéria. Saiba também que a Nigéria é o segundo
maior produtor de filmes do mundo, perdendo apenas para a Índia (Bollywood) e
superando os Estados Unidos (Hollywood, claro), em terceiro lugar. “O Voo
Sequestrado” relembra um fato real ocorrido em 1993. No dia 25 de outubro daquele
ano, quatro jovens ligados ao MAD (Movimento para a Atualização da Democracia) sequestram
o avião da Nigeria Airways que levantou de Lagos com destino à capital Abuja.
Os sequestradores queriam chamar a atenção do mundo para a situação política da
Nigéria, com abusos dos direitos humanos e corrupção governamental, além de exigirem
a renúncia do general Ibrahim Babangida, o então ministro da Defesa. A intenção
era desviar o voo para Frankfurt, na Alemanha, mas antes o avião teve que fazer
um pouso forçado para abastecer no aeroporto de Niamey, no país vizinho Níger.
Aqui se desenrolam as negociações entre os sequestradores, o governo do Níger e
da Nigéria. Não vou dar spoilers sobre o que acontece no desfecho, pois
acredito que são poucos os que se lembram dessa história. Trocando em miúdos, o
filme é muito bom, mantém uma tensão constante do começo até o final. Tem seus
defeitos, mas são poucos e não prejudicam o resultado final. Vale a pena assistir, principalmente para quem tem a curiosidade de conhecer um pouco do cinema de Nollywood.
sábado, 28 de dezembro de 2024
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
“TÁR”, 2022,
Estados Unidos, 2h38m, em cartaz na Prime Vídeo, roteiro e direção de Todd
Field. O filme já começa esquisito, apresentando os créditos completos logo no
início, quando a grande maioria dos filmes os apresenta no final. A história é
centrada na maestrina Lydia Tár (a atriz australiana Cate Blanchett), a
primeira mulher a dirigir a conceituada Orquestra Filarmônica de Berlim. Ao
contrário do que pensei inicialmente, trata-se de um personagem fictício, assim
como o enredo. Lésbica assumida, Lydia exige que seja chamada de “Maestro”. Ela
é casada com a spalla (primeiro violino) da orquestra, Sharon (a atriz
alemã Nina Hoss), mas convive com a fama de ter assediado integrantes femininas
das outras orquestras que dirigiu. Lydia mostra-se prepotente e arrogante, não
apenas nas aulas que ministra em escolas de música, mas também com os músicos
das orquestras. O filme se concentra nos bastidores do trabalho da maestrina,
aliás “maestro”, destacando o estresse de tanta responsabilidade. Realmente, a
vida de maestro não deve ser fácil. Além de estar prestes a lançar um livro de
memórias, Tár ensaia com a Filarmônica de Berlim para a gravação da difícil 5ª Sinfonia
do compositor Gustav Mahler. A música clássica está em toda parte, não só nos
diálogos como em toda a trilha sonora. “Tár” não é um filme para o grande público.
Talvez por isso mesmo tenha sido esnobado nas premiações do Oscar 2023, para o
qual foi indicado em cincos categorias (Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor
Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia). Além de ser longo, os
diálogos são inteligíveis apenas para músicos profissionais ou alunos de Escola
de Música. Também estão no elenco Sophie Kauer, Noémie Merlant, Mark Strong e
Julian Glover. De qualquer forma, vale conferir a excelente performance da
atriz Cate Clanchett, que antes de filmar estudou regência e piano. Quem curte música clássica certamente vai gostar.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
“UMA BELA MANHÔ (“UN BEAU MATIN”), 2023,
França, 1h52m, em cartaz na Prime Vídeo, roteiro e direção de Mia Hansen-Løve (“A
Ilha de Bergman”, “O Que Está por Vir”). Trata-se de um drama centrado em Sandra Kienzler (Léa Seydoux), uma jovem viúva que trabalha em Paris como tradutora/intérprete
em convenções e congressos. Ela tem uma filha de oito anos e está passando um
momento muito difícil com a doença do pai, George (Pascal Greggory), que sofre
de uma síndrome degenerativa do cérebro, que deixa a pessoa cada vez mais confusa,
debilitada e esquecida, além de uma cegueira psicológica. Ao acompanhar os
problemas do pai e a decisão da família de interná-lo em um asilo, Sandra entra
em depressão e é nesses momentos que aparece o grande talento da atriz Léa
Seydoux, talvez hoje a mais competente do cinema francês, capaz de trafegar
entre dramas eróticos (“Azul é a Cor Mais Quente) e filmes de ação (“Spectre” e
“007 – Sem Tempo para Morrer”). De volta à história: em meio aos problemas do
pai, Sandra reencontra Clément (Malvil Poupaud), ex-amigo do seu marido. Papo
vai papo vem, sofrendo de carência afetiva, Sandra começa a namorar Clément. Só
que tem um problema: ele é casado e tem dois filhos. Mesmo assim, Sandra concorda
em ser sua amante, até que um dia resolve que não quer mais fazer o papel da outra.
Completam o elenco Nicole Garcia, Camille Leban Martins, Sarah Le Picard e Fejria
Deliba. Trocando em miúdos, “Uma Bela Manhã” tem todos os ingredientes do
melhor cinema francês, fazendo jus ao seguinte comentário da principal crítica
do jornal The New York Times, Manohla Dargis: “O filme francês é
maravilhosamente balanceado, persuasivo e comovente”. Sem dúvida, um belo filme
que merece ser visto por quem admira cinema de qualidade. Imperdível”
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
“AGENTE DAS SOMBRAS”
("BLACKLIGHT”), 2022, coprodução Estados Unidos/Austrália/China,
1h48m, em cartaz na Prime Vídeo, direção de Mark Williams, que também assina o
roteiro com a colaboração de Nick May. O ator irlandês Liam Neeson ficou mais
conhecido do público depois de interpretar o empresário Oskar Schindler em “A
Lista de Schindler” (1993). Continuou com prestígio depois de, já veterano,
atuar em filmes de ação, principalmente a trilogia de “Busca Implacável”, depois
do qual fez vários filmes de ação. Neste último “Agente das Sombras”, aos 70
anos (hoje está com 72), Neeson dá mostras de que não tem mais a vitalidade de
outrora para filmes do gênero. Está visivelmente alquebrado, sem a mobilidade
de quem precisa correr, dar socos e pontapés. Nesse filme, Neeson é Travis
Block, um agente do FBI prestes a se aposentar. Sob a supervisão direta de
Gabriel Robinson (Aidan Quinn), diretor do FBI, Travis sempre agiu nas sombras,
ajudando a salvar agentes em perigo ou com algum trauma de trabalho. A história
de “Agente das Sombras” começa com o assassinato de uma jovem militante
política que resolveu enfrentar o sistema, denunciando corrupção e a
participação do governo em planos para eliminar opositores políticos.
Resultado: acabou assassinada. O jovem agente Dusty Crame (Taylor John Smith),
revoltado com a morte da moça, decide procurar a jornalista investigativa Mira
Jones (Emmy Baver-Lampman) para denunciar uma tal Operation United como
responsável pela morte da jovem militante. Dusty também terá destino igual e
Travis acaba descobrindo que tudo é obra justamente do FBI, assim como o
desaparecimento de sua filha e de sua neta. Com a ajuda da jornalista, Travis
irá atrás dos responsáveis. Embora tenha algumas boas cenas de ação, “Agente
das Sombras” não é “aquele” filme que mereça uma recomendação entusiasmada, mas
também não chega a ser totalmente decepcionante.
“BATALHÃO 6888” (“THE SIX
TRIPLE EIGHT”), 2024, Estados Unidos, 2h07m, em cartaz na
Netflix, roteiro e direção de Tyler Perry (“Madea”, “Divórcio em Família”).
Mais uma história da fonte inesgotável de histórias ocorridas durante a Segunda
Guerra Mundial e adaptadas para o cinema. Dessa vez, uma história pouco conhecida
por aqui, ou seja, a formação do primeiro batalhão de mulheres negras do
exército norte-americano. Comandadas e treinadas pela capitã Charity Adams (Kerry
Washington, ótima), 855 mulheres foram enviadas para a Inglaterra com a difícil
– e quase impossível – missão de selecionar, separar e enviar 17 milhões de
cartas esquecidas e armazenadas na cidade inglesa de Birmingham. Parte dessas
cartas havia sido escrita pelas famílias dos soldados que estavam no front
europeu e outra parte escrita pelos soldados com destino às suas famílias. O
maior objetivo dessa tarefa era levantar o moral dos soldados norte-americanos
com notícias de seus familiares, assim como estes receberem notícias de seus
entes queridos envolvidos na guerra. Para resumir a história, as mulheres do intitulado
“6888º Batalhão do Diretório Postal Central” conseguiram cumprir sua missão em
apenas três meses, ou seja, muito antes do estipulado. O filme destaca o forte
racismo existente na época, o que fez muitos acreditarem que as mulheres negras
não conseguiriam executar sua tarefa. Pois mesmo com esse incrível feito, elas
nem sequer receberam qualquer homenagem quando voltaram ao seu país e a
história de sua vitoriosa missão ficou escondida até agora. Também estão no
elenco Ebony Obsidian, Sarah Jeffery, Oprah Winfrey, Shanice Williams, Dean
Norris (da série Breaking Bad), Sam Waterston e Susan Sarandon, esta última irreconhecível como Eleanor
Roosevelt, mulher do presidente. O filme é uma superprodução digna de Hollywood,
com centenas de figurantes e uma primorosa recriação de época. Para coroar, o
espectador ainda poderá conhecer, durante os créditos finais, alguns personagens reais que viveram aquela
incrível história. Imperdível!