Fazer
papel de sujeito bonzinho não combina muito com Robert De Niro. Ainda mais num
filme bonitinho, como é “UM SENHOR ESTAGIÁRIO” (“The Intern”), 2015. Prefiro o grande ator interpretando
homens maus, como os mafiosos de tantos filmes, inclusive na comédia “A Máfia
no Divã”. Nessa comedinha sem muita graça, De Niro é Ben Whittaker, um
aposentado de 70 anos entediado com a rotina dos dias sem fazer nada, a não ser
ir a velórios de amigos, programa cada vez mais frequente. Ao se deparar um
cartaz de uma empresa anunciando a contratação de estagiários sêniors (mais de
65 anos), ele resolve se inscrever. Passa nos testes e começa a trabalhar. A
empresa é um site de vendas de roupas fundado e administrado por Jules Ostin (Anne
Hathaway). Ben é o único a trabalhar de terno e gravata. Com seu jeito de papaizão
e bonachão, ele conquista a simpatia de todos e até de Jules, sem contar a
massagista da empresa, Fiona (Rene Russo, ainda bonita e em grande forma). Não
é aquele filme que faz gargalhar, mas tem seus momentos engraçados. O filme foi
escrito e dirigido por Nancy Meyers, especialista em comédias, algumas muito boas,
como “Simplesmente Complicado”, “Alguém
tem que ceder” e “O Amor não tira Férias”. Não espera muita coisa a mais do que apenas um bom programa para uma sessão da
tarde com pipoca e guaraná.
Primeiro
filme de ficção lançado pela Netflix, “BEASTS OF NO NATION”, 2015, EUA, direção de Cary Fukunaga (da série “True Detective”) ganhou enorme
repercussão não apenas pela ótima história – baseada no livro do escritor nigeriano
Uzodinma Iweala - e pela excelente produção, mas também porque foi boicotado
pelas distribuidoras e produtoras nos EUA – a Netflix exibe filmes pela
Internet, prática comparada à pirataria. A ideia era lançar o filme também nos cinemas
e ganhar uma vaga na disputa do Oscar 2016. Deixando de lado a polêmica, o
filme é muito bom, realista, de grande impacto. Pode incomodar os espectadores
mais sensíveis, pois contém muita violência, cenários de extrema pobreza e
crianças servindo como soldados, matando e sendo mortos. A história é
ambientada num país da África em meio a uma violenta guerra civil, envolvendo o
exército e grupos rebeldes. Todo mundo lutando contra todo mundo, uma matança
geral. O garoto Agu (Abraham Attah) consegue fugir da sua vila dizimada e é
recrutado como soldado pelo grupo rebelde chefiado pelo “Comandante” (o ótimo
ator inglês Idris Alba), um líder carismático e sanguinário, especialista em
fazer lavagem cerebral em meninos, transformando-os em verdadeiros assassinos. Resumindo:
um filmaço!
“NIGHTINGALE – Peter e sua Mãe”, 2014, é
um filme produzido e exibido pela HBO – ainda não chegou aos cinemas. A direção
é de Elliott Lester (“Blitz”). Os produtores são os mesmos de “Selma” e “12
Anos de Escravidão”, entre eles o astro Brad Pitt. Desconsidere a grande
maioria dos sites e blogs de cinema que comentaram o filme sem tê-lo assistido,
divulgando uma história que não tem nada a ver. Faço esse esclarecimento com
toda segurança, pois assisti ao filme. Trata-se de um monólogo ao estilo
teatral, o que deve desagradar a muitos espectadores. Só há um personagem,
Peter (David Oyelowo), falando o tempo inteiro sobre a mãe repressora que
finalmente o deixou em paz, sobre a liberdade de fazer o que quiser dentro de
casa e sobre um antigo colega de exército que espera rever (parece que houve um
caso entre os dois). Nem todo filme de um personagem só é chato. Já vimos
alguns muito bons, tais como “Náufrago”, com Tom Hanks, “Até o Fim”, com Robert
Redford, e podemos considerar ainda “Gravidade”, durante o qual Sandra Bullock
passa a maior parte do tempo sozinha, perdida no espaço. O inglês David Oyelowo,
de “Selma, Uma Luta pela Igualdade”, é um excelente ator e segura o monólogo
com muita competência. O clima de tensão que acompanha o personagem faz com que
a gente queira chegar ao final para ver o que vai acontecer.
“SELF/LESS” (ainda
sem tradução por aqui), 2015, é um suspense norte-americano dirigido pelo
indiano Tarsem Singh (de “Espelho, Espelho Meu” e “Imortais”). O tema remete a
filmes de ficção científica, embora seja ambientado no tempo atual. O bilionário
Damian (Ben Kingsley) tem câncer e poucos meses de vida. Sem nada a perder,
ingressa num programa arrojado de troca de corpos, comandado pelo excêntrico
Albright (Matthew Goode). O experimento dá certo e Damian assume a carcaça de Mark
(Ryan Reynolds, de “Lanterna Verde”), um soldado do exército morto em combate
no Afganistão. Devido aos remédios que é obrigado a tomar, Damian começa a ter
alucinações e, numa delas, consegue visualizar Madeline (Natalie Martinez), a
viúva de Mark, e a filha. O passo seguinte é tentar encontrá-las. O susto da
mulher é grande, mas com muito tato ele consegue convencê-la de que é Mark. Mas
não por muito tempo. Para piorar toda essa confusão, Damian descobre que os
efeitos dos remédios não são permanentes e que Albright não passa de um farsante. A partir daí, Damian vai tentar desmascará-lo. O clima de suspense até que prende a atenção,
mas a história é inverossímel demais, mesmo sendo uma ficção. De qualquer
forma, é um filme movimentado e com ritmo alucinante até o seu final.
“CRIMES OCULTOS” (“Child 44”), EUA, 2015, é um misto de drama, suspense e policial. Na década de 30,
o ditador Joseph Stalin resolveu reprimir os ucranianos, que lutavam por sua
independência. Stalin provocou a morte de 14 milhões de ucranianos (mais do que
os judeus que Hitler assassinou no Holocausto), a grande maioria de fome. A
matança deixou milhões de crianças órfãs. Aí vem a ficção. O filme conta a
história de uma dessas crianças, Leo Demidov (interpretado em adulto por Tom
Hardy). O enredo pula para 1953. Leo é um oficial do Exército russo, casado com
Raisa (Noomi Rapace). Uma série de assassinatos de crianças começa a chamar a
atenção das autoridades. Só que naquela época, a ordem de Stalin é que esses
crimes sejam atribuídos a acidentes, como atropelamento de trem, quedas etc. “Não
há assassinatos no paraíso”, conforme ditava a cartilha do governo russo. “Esse
tipo de crime é coisa do Ocidente, do regime capitalista”. Os oficiais rezavam
por essa cartilha. Até que o afilhado de Leo, filho de outro oficial, é
assassinado. Aí ele resolve investigar por conta própria, contrariando seus
superiores. O filme tem ainda no elenco Gary Oldman, Vincente Kassel e Joel Kinnaman.
A direção é do sueco Daniel Espinosa. O filme é falado em inglês, mas os atores
interpretam com sotaque russo, o que soa meio falso e ridículo. Embora seja o
ator do momento (“Mad Max”), Tom Hardy é fraco, inexpressivo, atua no piloto
automático. Muito pouco para fazer o personagem principal de um filme. Filme, aliás, que acrescenta pouco à cinematografia.