sábado, 29 de novembro de 2025

 

“LEFTER: O PROFESSOR” (“LEFTER: BIR ORDINARYÜS HIKAYESI”), 2025, Turquia, 2h6m, em cartaz na Netflix, direção de Can Ylkay (“Ayla”, “Filhos de Istambul”), seguindo roteiro assinado por Ayse Ilker Turgut. Cinebiografia de Lefter Küçükandonyadis (1924/2012), o lendário jogador de futebol turco titular da seleção de seu país em 50 jogos, incluindo a primeira participação na Copa do Mundo de 1954. Ao contrário do eu imaginava, o futebol serviu apenas como pano de fundo na história. Desde sua infância e adolescência na ilha de Büyükada, onde ajudava o pai pescador, até sua despedida do futebol, aos 39 anos, o filme dá maior destaque à vida particular de Lefter, o relacionamento com a família, o   casamento com Stavrini (Deniz Isin), sua aventura amorosa com Meri (Alishan Malbora) quando jogava na Fiorentina (Itália) e o retorno ao time do Fenerbahçe, além das questões políticas da época, incluindo a rivalidade com a Grécia por causa de Chipre. Estranhamente, não houve qualquer menção à participação da seleção turca na Copa de 1954, a primeira de sua história. O roteiro preferiu destacar o amistoso disputado em 1956 entre a seleção turca e a máquina de jogar da Hungria, do craque Puskás, vencido pelos turcos por 3 a 1, um dos gols marcados por Lefter. Tal qual Sócrates, o saudoso ex-craque corintiano, Lefter também recebeu o apelido de “professor” por causa de suas atuações nas quatro linhas. Trocando em miúdos, achei que o filme falhou ao adotar o estilo novelesco, aspecto muito comum à maioria dos filmes do cinema turco. Mas vale a pena conhecer quem foi o astro Lefter, para mim, até assistir ao filme, um ilustre desconhecido.  

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

“AS LOUCURAS” (“LAS LOCURAS”), 2025, México, 2h01m, em cartaz na Netflix, roteiro e direção de Rodrigo García Saiz. Alvíssaras! Rufem os tambores! Comemorem, cinéfilos do meu Brasil. Acaba de chegar na Netflix um dos filmes mais interessantes, inteligentes e criativos dos últimos anos. É o terceiro longa do jovem cineasta Rodrigo García Saiz - os outros dois foram "Lluvia" e "Morro" -, mais conhecido como diretor de curtas. “As Loucuras” é uma pérola do cinema mexicano, com um elenco de muito respeito, principalmente atrizes do mais alto gabarito, um primoroso roteiro e pitadas de humor tratadas com muita inteligência. São seis histórias envolvendo mulheres, cada qual à sua maneira, atingidas por uma intensidade emocional de um colapso nervoso. Em quase todas, com exceção da segunda, os eventos estão relacionados com Renata (Cassandra Ciangherotti), uma jovem problemática que cumpre prisão domiciliar depois de promover uma grande confusão num supermercado. Diagnosticada com transtorno bipolar no mais alto grau, ela vive dando um trabalho danado ao pai e à madrasta. Na segunda história, uma veterinária tem um ataque de nervos depois de praticar eutanásia numa cadela que tem seu nome: Penélope. Nas demais, Renata aparece também como protagonista, mas não a principal, inclusive naquela em que sua psiquiatra participa de um almoço em família que acaba na maior confusão. Enfim, cada história reserva uma situação diferente das demais, com muito humor e histerismo feminino. Além de Cassandra Ciangherotti, que dá um show como a desequilibrada Renata, estão no ótimo elenco Naian González Norind, Adriana Barraza, Fernando Cattori, Raúl Briones, Fernanda Castillo, Natalia Solian, Ilse Salas e Natalia Plascencia, além do veterano ator chileno Alfredo Castro, o único não mexicano do elenco. Resumindo, “As Loucuras” é um filme agradável que trata com muita eficiência as fragilidades humanas que atingem mulheres à beira de um ataque de nervos. IMPERDÍVEL, com letras maiúsculas.     

domingo, 23 de novembro de 2025

 

“MISS REVOLUÇÃO” (“MISBEHAVIOUR”) – já encontrei o mesmo filme com o título de “Mulheres ao Poder” – 2021, coprodução Inglaterra/Irlanda/Austrália, 1h46m, em cartaz na Prime Vídeo, direção de Philippa Lowthorpe, com roteiro assinado por Rebecca Frayn e Gaby Chiappe. Pouco divulgado por aqui e escondidinho no catálogo da Prime, resolvi assistir e comentar porque uma grande amiga minha participou do concurso Miss Mundo 1970. Sonia Yara Guerra ficou em segundo lugar no Miss Brasil e conquistou o direito de disputar o Miss Mundo em Londres. “Miss Revolução” conta os bastidores do concurso e o que aconteceu no dia da sua realização, que ficou marcado não apenas pelo tumulto promovido por ativistas feministas, mas também por eleger a primeira mulher negra como Miss Mundo, a miss Granada (Gugu MBatha-Raw). Outra curiosidade foi a participação da África do Sul, que, por causa do apartheid, concorreu com duas candidadas, uma negra e uma branca. Outro destaque foi a participação, como mestre de cerimônias, do consagrado comediante norte-americano Bob Hope (Greg Kinnear). Também fazem parte do ótimo elenco Keira Knightley, Jessie Buckley, Rhys Ifans, Lesley Manville, Keeley Hawes, Suki Watershouse, Emma Corrin, Loreece Harrison e Phyllis Logan. O filme agradou a crítica. O rigoroso site Rotten Tomatoes, por exemplo, apurou 88% de aprovação com base em 33 críticas. Eu também gostei, pois relembrou, com uma caprichada recriação de época, aquele que foi um dos anos de muita ebulição cultural e política no mundo. Recomendo.



“DEPOIS DA CAÇADA” (“AFTER THE HUNT”), 2025, coprodução Estados Unidos/Itália, 2h19m, em cartaz na Prime Vídeo, direção de Luca Guadagnino (“Me Chame pelo Seu Nome”), com roteiro assinado por Nora Garrett. Numa das primeiras cenas, professores e alunos do Instituto de Filosofia da Universidade de Yale conversam sobre comportamento humano, psicologia e, claro, filosofia. Os diálogos são afetados, recheados de citações filosóficas e muita erudição. Enfim, enfadonhos. Confesso que tive vontade de desistir, mas continuei firme, mais como curiosidade. E, afinal, também tem Julia Roberts comandando o elenco. Resumo da história: a professora Alma Imhoff (Roberts) é procurada pela aluna Magguie (Ayo Edebiri) que denuncia ter sido estuprada pelo professor Henrik Gibson (Andrew Garfield). Alma fica sem saber o que fazer, pois Henrik é seu grande amigo e ex-namorado. A dúvida sobre quem está dizendo a verdade fica ainda maior depois que Alma confronta Henrik. Em meio a toda essa confusão, Alma ainda é obrigada a conviver com fortes dores causadas por úlceras não tratadas, o que aumenta ainda mais o seu estresse, além do marido passivo, ausente e metódico. Assim como o público e a maioria dos críticos profissionais, também achei o filme muito chato, apesar do elenco competente, que conta ainda com Chloë Sevigny (irreconhecível) e Michael Stuhlbarg. Não duvido que Julia Roberts seja indicada ao prêmio de Melhor Atriz do próximo Oscar.