sábado, 12 de setembro de 2020

 

“UM GRANDE PLANO” (“FILM KTEER KBEER” – nos países de língua inglesa, ganhou o título de “Very Big Shot”), 2016, Líbano, 1h48m, disponível na plataforma Netflix. O filme marca a estreia do jovem Mir-Jean Bou Chaaya, de apenas 31 anos, como roteirista e diretor. A história é centrada nos irmãos Ziad, Joe e Jad, proprietários de uma pequena pizzaria num bairro popular de Beirute. Ziad, o mais velho, está sempre metido em confusão. Numa delas, ele e Joe são presos e acabam cumprindo pena numa penitenciária, enquanto Jad, o caçula, continua à frente da pizzaria. Cinco anos depois, quando Ziad e Jad saem da prisão cheios de planos para ganhar mais dinheiro, a situação volta a complicar. Ziad bola um plano para roubar drogas de um poderoso traficante local, para depois revendê-las na Europa. A partir daí, o filme começa a virar uma comédia. E muito divertida, principalmente depois que Ziad resolve produzir um filme para o cinema, contando com a ajuda de um cineasta amador consumidor das drogas vendidas pelos irmãos. Os bastidores das filmagens são hilariantes. Uma jogada de mestre do estreante diretor Bou Chaaya. Estão no elenco Alain Saadeh (Ziad), Tarek Yaacoub (Joe), Wissam Fares (Jad), Fouad Yammine (Charbel) e Alexandra Kahwagi (Alya). “Um Grande Plano” foi o representante do Líbano na disputa do Oscar 2017 como Melhor Filme Estrangeiro e foi exibido por aqui durante a programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Um filme realmente surpreendente, muito divertido, um ótimo entretenimento. Imperdível!    

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 

“EL JUGADOR”, 2017, Argentina, 1h43m, marca a estreia de Dan Gueller como diretor e roteirista em longa-metragem. Para criar a história, Gueller revelou que se inspirou no romance “O Jogador”, escrito em 1867 pelo romancista russo Fiódor Dostoiévski. O filme foi divulgado como uma comédia, embora as sequências de humor sejam raras e sem muita graça. Alejandro Reynoso (Alejandro Awada) trabalha como principal assessor do rico empresário Pascual Palma (Oscar Alegre). Enviado para Mar Del Plata com o intuito de levar uma certa quantia em dinheiro para Sergio (Pablo Rago), neto do velho. Segundo Sérgio disse ao avô quando pediu a grana, ela serviria para investir num empreendimento na cidade turística. Só que, na verdade, é para comprar cocaína e depois revendê-la para os traficantes locais – uma parte, é claro, ficará para consumo próprio, do parceiro Dani (Esteban Bigliardi) e da amante Belén (Guadalupe Docampo). Aí que começa toda a confusão, primeiro porque Sérgio e os parceiros são completamente inexperientes para negociar com traficantes. Segundo, porque surge inesperadamente a irmã de Sérgio, Paulina Palma (Lali Gonzalez), que, para conseguir dinheiro para viajar pelo mundo, pede que Alejandro vá ao cassino arriscar a sorte. Logo Alejandro, um viciado crônico em jogos de azar. Para piorar a situação e aumentar ainda mais a confusão, o próprio o avô Pascual, “El Abuelo”, que aparece de surpresa para conferir “in loco” o que está acontecendo. Com exceção do veterano Alejandro Awada, o resto do elenco é muito fraco, assim como o filme inteiro. Enfim, “El Jugador” passa longe, muito longe (diria “a anos-luz”) do verdadeiro e excelente cinema argentino que já nos presentou com excelentes filmes. O estreante diretor Dan Gueller não precisava recorrer a Dostoiéviski para fazer esse verdadeiro abacaxi. Uma decepção.   

terça-feira, 8 de setembro de 2020

 

"CALIBRE” (à disposição na plataforma Netflix), 2018, Escócia, 1h41m, primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Matt Palmer. Trata-se de um suspense envolvendo dois amigos que foram caçar na floresta e acabaram numa encrenca tremenda. Depois de se hospedarem num pequeno hotel de um vilarejo, Marcus (Martin McCann) e Vaughn (Jack Lowden) saíram para se divertir num bar, onde conheceram duas garotas. Marcos se deu bem com uma loira fogosa chamada Kara (Kitty Lovett), mas não imaginava que ela fosse filha de um manda-chuva do vilarejo, capaz de castrar quem chegasse perto dela. Pior, Marcus ainda forneceu maconha para a garota. Vaughn, por seu lado, ficou na conversa com Iona (Kate Bracken), a outra garota, pois, cheio de remorso, contou que sua namorada está grávida e, portanto, não tinha clima para seguir em frente. Isso não é nada diante do que viria depois. No dia seguinte, de ressaca, os amigos saíram para caçar e aí é que aconteceria um acidente bastante trágico que colocaria a dupla em grandes apuros. Não dá para comentar mais para não estragar as surpresas do roteiro. Matt Palmer acertou em cheio em seu primeiro filme, um suspense realmente de prender o fôlego, ou, como os escritores de romances policiais usam como clichê, “de eriçar os pelos da nuca”. A partir do acidente na floresta, o filme adquire um ritmo de tensão contínua, com sequências que colocam os dois amigos caçadores em situações de iminente perigo. “Calibre” é tão bom que logo na sua estreia, no Edinburgh International Film Festival, foi muito elogiado por crítica e público, chegando a ser eleito o melhor filme britânico do ano. O filme também conquistou o prêmio de Melhor Ator (Jack Lowden), além de várias indicações, pela British Academy Academy Scotland Awards. Outra façanha: conseguiu o índice de 95% de aprovação do site especializado em cinema “Rotten Tomatoes”, cuja tradição é a de ser extremamento rigoroso e dar notas baixíssimas. Enfim, “Calibre” realmente é um ótimo suspense que recomendo como imperdível.   

“GLACÉ”, 2017, minissérie francesa em 6 capítulos produzida e exibida pelos canais M6 e Gaumont Television, agora disponível na plataforma Netflix. A direção é de Pascal Chaumeil. O roteiro, escrito por Caroline Van Ruymbeke e Gérard Carré, foi inspirado no livro “Glacé”, primeiro romance policial de Bernard Minier, lançado em 2011. A história é toda ambientada durante o inverno num vilarejo no alto dos Pirineus franceses e começa com o assassinato de um cavalo puro sangue, encontrado decapitado. Como o animal pertence a um empresário rico e influente na região, a polícia é mobilizada para tentar descobrir quem são os responsáveis pelo crime. As investigações ficam por conta do detetive Martin Servaz (Charles Berling) e da capitã Rène Ziegler (Julia Piaton). Não demora muito para os policiais descobrirem que o assassinato do cavalo está ligado a uma vingança de outros crimes ocorridos no passado, envolvendo estupros e suicídios. O mistério aumenta quando as suspeitas recaem sobre Julian Hirtman (Pascal Greggory), um serial killer internado numa instituição psiquiátrica que estaria por trás de todos esses crimes. As investigações também envolverão outros personagens, como a psiquiatra Diane Berg (Nina Maurisse) e a diretora da clínica psiquiátrica, Elizabeth Ferney (Lubna Azabal), além de cidadãos proeminentes da região. "Glacé" é mais uma excelente minissérie francesa, repleta de surpresas e reviravoltas, um elenco de primeira e uma história bastante interessante, com destaque ainda para as paisagens de tirar o fôlego dos Pirineus. Ao lado de “A Louva-a-Deus”, outra ótima minissérie francesa comentada recentemente aqui no blog, “Glacé” se apresenta como um entretenimento de muita qualidade que merece ser visto.