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Joe
Albany foi um pianista norte-americano de jazz dos mais conceituados. Entre as décadas de 40 e
70, gravou vários discos e tocou com Lester Young, Benny Carter, Charlie Parker
e Joe Venuti, entre outras feras do jazz. O drama “A DECADÊNCIA DE JOE ALBANY” (“LOW DOWN”), 2015, EUA, ambienta a
história do músico na década de 70, segundo lembranças relatadas num livro
escrito pela filha do músico, Amy-Jo Albany, que depois escreveria o roteiro do
filme, juntamente com Topper Lilien. A direção coube a Jeff Preiss, mais
conhecido pelos seus documentários, um deles dedicado ao músico, cantor e
compositor Chet Baker. Abandonada pela mãe alcoólatra aos seis anos de idade,
Amy-Jo foi criada por Joe num ambiente nada saudável de músicos desempregados,
prostitutas e, como o pai, viciados em drogas pesadas, como a heroína. Joe e a filha viviam num quarto
de pensão na periferia de Hollywood, onde o músico ensaiava e reunia amigos
para algumas jams sessions. Amy-Jo,
então uma garota adolescente, delirava com as performances do pai, cuja relação
era de pura veneração quase incestuosa. Ela chegou até a se prostituir para
comprar heroína para o pai. O desempenho do elenco é espetacular, a começar por
John Hawkes como Joe Albany. Elle Fanning como Emy-Jo também dá um show de
interpretação, assim como Glenn Close, a avó paterna, e Lena Headey, como a mãe
alcoólatra. Um filmaço!
“9 DE ABRIL” (“9.april”), 2015,
Dinamarca, 93 minutos, direção de Roni Ezra. No dia 9 de abril de 1940, as
tropas alemãs de Hitler invadem a Dinamarca e a Noruega na chamada “Operação
Weserübung”. O filme foca a invasão da Dinamarca e os esforços de seu exército
para conter o avanço dos nazistas. A história é esclarecedora com relação ao
despreparo dos soldados dinamarqueses. Quando a notícia da invasão chega aos
quartéis, o exército é mobilizado. Cabe ao 2º Batalhão de Bicicletas, comandado
pelo Tenente Sand (Pilou Asbak), a missão de deter as tropas invasoras na
fronteira até que cheguem reforços de outras partes do país. Só que os
dinamarqueses não imaginavam o poderio dos alemães, que chegaram com milhares
de soldados apoiados por blindados, tanques e aviões. Os jovens soldados dinamarqueses,
despreparados para o combate e com munição contada – 40 balas de fuzil para cada
um -, não tiveram a mínima chance contra o poderoso e bem armado exército
alemão. Apesar disso, lutaram bravamente e, no final, sem os reforços
aguardados, tiveram de se entregar. Para aumentar sua decepção, também souberam
que o governo dinamarquês havia se rendido horas antes. Produzido para exibição
na TV dinamarquesa, o filme apresenta ótimas cenas de batalha e muita tensão. Nos
créditos finais, o diretor acrescentou depoimentos de soldados que participaram
daquele combate. Recomendo para quem gosta de filmes de guerra e curte fatos
históricos. 
“UM DIA PERFEITO” (“Um Día Perfecto”), 2015,
Espanha, roteiro e direção de Fernando Léon de Aranda. A história é ambientada no
final dos anos 90 em algum lugar dos Bálcãs, quando o conflito étnico na ex-Iugoslávia
caminhava para o seu final e mostra o cotidiano de uma equipe de voluntários de
uma organização humanitária. Da equipe fazem parte o porto-riquenho Mambrú
(Benício Del Toro), a francesa Sophie (Mélanie Therry), o norte-americano B
(Tim Robbins) e o sérvio Damir (Fedja Stukan), guia e intérprete. Seu trabalho
é supervisionado pelo pessoal das Nações Unidas, que recruta a croata Katya
(Olga Kurylenko) para coordenar os trabalhos da equipe humanitária. Entre as
missões do grupo está o resgate do cadáver de um homem atirado no único poço de
água de uma cidade com o objetivo de contaminá-la. Para retirar o corpo, porém,
será necessária a utilização de uma corda. Lutando contra todo tipo de dificuldade,
incluindo a falta de cordas e os entraves burocráticos da ONU, a equipe terá de
se desdobrar para cumprir a difícil missão. Para amenizar o contexto dramático
da trágica guerra, Aranda impõe um tom irônico aos diálogos, acrescentando
altas doses de humor negro, como nas cenas em que o comboio da equipe é obrigado a desviar de vacas mortas na estrada sem saber para que lado devem ir para evitar as minas. Além disso, o pop impera na trilha sonora, com
Marilyn Mason, Lou Reed e Ramones. O filme estreou no Festival de Cannes 2015 e
ganhou elogios da crítica especializada. Do mesmo diretor, gostei muito mais de
“Segunda-feira ao Sol”, um retrato dramático do desemprego na Espanha no início
deste século.
“A INFÂNCIA DE UM LÍDER” (“THE CHILDHOOD OF A LEADER”), 2015, EUA,
roteiro e direção de Brady Corbet. Confesso que demorei um tempo para assimilar
o choque pela novidade estética proporcionada pelo jovem ator norte-americano de 28 anos e agora
diretor Brady Corbet, em seu primeiro longa-metragem. Trata-se de um filme que
passa longe de qualquer apelo comercial. Ou seja, é um filme difícil de
digerir, lento e um tanto soturno, com a utilização de uma fotografia em tons
esmaecidos, opacos, e uma trilha sonora que aumenta o já dominante clima de
tensão. A história foi inspirada no conto “A Infância de um Líder”, do filósofo
Jean Paul Sartre, e no romance “The Magus”, de John Robert Fowles. Um
representante do governo dos EUA chega à Europa, com a esposa e o filho, para
coordenar os trabalhos que resultarão no Tratado de Versalhes, que pôs fim à
Primeira Grande Guerra. Embora o pano de fundo seja a situação política da
Europa no pós-guerra, o enredo destaca a situação familiar vivida pelo
representante norte-americano (Liam Cunningham). Casado com uma mulher fria,
infeliz e inescrupulosa (Bérénice Bejo), ele tem dificuldades para educar o filho,
Prescott (Tom Sweet), que se mostra rebelde e sempre contraria as ordens do pai
e da mãe. O garoto não aceita ingerências, quer mandar na casa. Enfim, está
nascendo um verdadeiro tirano fascista. Talvez seja esta a principal e mais
evidente metáfora da história, como o desfecho ressalta ao mostrar um grande
líder (Robert Pattinson) sendo aclamado pelo povão em delírio, como aconteceria
pouco depois com Mussolini e Hitler. Por seu trabalho criativo e inovador,
Brady Corbet – mais conhecido como ator de filmes como “Melancolia”, “Acima das
Nuvens” e “Enquanto Somos Jovens” – conquistou dois importantes prêmios no
Festival de Veneza: “Melhor Realizador” e “Melhor Primeiro Filme”.